A ansiedade climática vai nos matar antes do aquecimento global?
Para que escrever uma newsletter se tudo vai ser demolido pelo planeta a qualquer momento?
Longe de mim trazer um problema global sério para a mesa (supondo que você esteja em uma), mas a coisa tá feia quando o assunto é aquecimento global. Isso falando no sentido estético, no ético e no patético também. É como se a humanidade inteira estivesse enrolando no trabalho presencial até mais tarde porque tá sem clima em casa.
Quando eu estava na escola e o tema de alguma aula era meio ambiente já se falava sobre os perigos do futuro, a falta de consciência do ser humano com tudo que está aí e o fim dos recursos naturais do planeta Terra. Eu ouvia aquilo com menos de dez anos de idade e achava que isso seria um problema pra resolver num futuro muito distante, tipo 2100.
Não deu nem cinquenta anos e esse futuro já virou presente. Pior, com um celular nas minhas mãos 24 horas por dia, 7 dias por semana. Puxado.
Vamos respirar fundo antes de continuar, enquanto tem oxigênio grátis no ar.
Não sei você, mas eu não tive minha casa, meu bairro e minha cidade destruídos por terremoto, enchente, queimada, qualquer desastre ou tragédia do tipo. Em teoria, eu podia estar de boa na minha, ocupado com outras piras. O que acontece é que eu fico muito tempo online nas redes sociais, eu leio notícias, eu assisto ao Jornal Nacional. Pior ainda, ouço podcasts de notícias com fones de ouvido, as vozes falam diretamente no meu tímpano.
As notícias de mais esse momento histórico vão passando na nossa fuça sem pedir licença. Teve queimadas horrendas no Pantanal, garimpo na Amazônia, enchentes em Petrópolis, o litoral de São Paulo destruído, cidades debaixo d’água na região Sul, no sul da Bahia, no norte de Minas.
Aí é onda de calor no Brasil, daquela de torrar até o coro cabeludo todo verão. E todo outono. E toda primavera. Até outro dia o mapa do Brasil inteiro estava totalmente vermelho, pegando fogo. E o que dizer do inverno? Cada vez mais um querido pronto para trazer uma friaca desgraçada para nossas vidas, pegada zero grau e neve num país tropical abençoado.
As pessoas estão literalmente morrendo de calor e de frio, e infelizmente não estou usando literalmente errado essa palavra, antes literalmente fosse.
Daria pra gente delirar e inventar “ah porque Deus não gosta mais do Brasil, o papa é Argentino e tá rogando praga”, mas não é bem assim. O colapso é global: enchentes na Indonésia, terremoto no Marrocos, queimadas no Canadá, onda de calor na Europa, seca na Espanha aumentando o preço do azeite no mercadinho dos nossos bairros (pois é), nevasca em todo lugar, até Nova York toda alagada assusta quem tá só passando o feed. Tudo acontece sem aviso prévio e fora de época.
Quem aguenta todas essas notícias? Um jeito seria não me informar mais, simplesmente não ter celular. Só que eu preciso me alimentar, trabalhar, pagar minhas contas.
Passam muitas coisas pela minha cabeça:
Eu estou fazendo um papel de otário praticando meus exercícios físicos e pensando em dieta sabendo que vamos todos morrer em breve?
Será que se eu nunca tivesse usado sacolinha de mercado o planeta estaria numa situação menos dramática?
Se todo mundo vai morrer logo por que eu continuo pagando a fatura do cartão de crédito?
Enchente, incêndio, nevasca, tsunami ou terremoto? Se for pra escolher, qual seria meu favorito?
Há sentido em gastar meus últimos anos neste planeta estudando se, tudo indica, nem vai dar tempo de usar esse conhecimento para nada?
Para que escrever uma newsletter se tudo vai ser demolido pelo planeta a qualquer momento?
Esses pensamentos vem, vão e virão, mas eu sinceramente vou seguir minha vida na mesma lidando com mais essa paranoia. Aliás, como a humanidade adora dar nomes às coisas (tipo responsabilidade afetiva, geração Z, Jay-Z, mandioquinha, sublingual, etc) esse sentimento já tem uma palavra específica. Chama ansiedade climática. Em português também dá para usar a ecoansiedade, que é a mesma coisa só que em um único verbete.
O jeito é levar a nossa vidinha besta e se perguntar: será que a ansiedade climática vai nos matar antes do aquecimento global? Pois eu não acredito mais na ilusão de que um meteoro vai chegar e acabar com tudo.
Você também está com a pulga atrás da orelha por causa do fim do mundo? Saiba que assinando a Dia Sim, Dia Não por apenas R$ 5,99 mensais você não resolve esse problema, mas apoia a produção de conteúdo da newsletter. Vem comigo, saiba mais no link:
***LINKS PARA PREENCHER O VAZIO DA EXISTÊNCIA:
Enquanto o mundo não acaba, vamos ocupar o vazio da existência consumindo links. Reforço, essa seção tradicional da Dia Sim, Dia Não presta esse serviço. Hoje eu separei 9 links.
Ainda sobre o clima de fim de mundo: um ótimo recado pra você que tá pensando se vai ou racha.
A
escreveu uma edição da sobre várias coisas, inclusive um sabiá-do-campo.Ouvi um podcast sobre como certas pessoas estão manipulando o Rotten Tomatoes para seus filmes saírem bem na fita. Vê se pode uma podrera dessas.
Estou ouvindo e curtindo A Coach, o novo podcast do Chico Felitti. Dessa vez ele conta a história de uma pilantra profissional que enganou um monte de gente só por ser gata e ter lábia.
Inspirada no podcast A Coach, a
fez um post na com histórias de outras profissionais da pilantragem criminosa. Como é fascinante conhecer histórias de quem leva a vida assim. Recomendo!A
contou na que a primeira ferramenta criada pelo ser humano foi uma bolsa.Surgiu mais uma newsletter nova nessa praça Substack: a
, a mesma daquelas tirinhas de terapia espertalhonas e engraçadonas do Instagram. O primeiro post é sobre como fazer amizades com belas coxas.Antes de ir embora, mais ansiedade para você.
Pra acabar: ARTE.
***POR HOJE É SÓ
Ficamos por aqui com a Dia Sim, Dia Não 129. Em breve chega aí a edição 130, mas enquanto isso, fique em dia com todo o conhecimento disponível, leia mais:
pura angústia, ansiedade e gatilho pra uma crise deprê depois disso
A sensação é que somos o sapo dentro da panela de água quente fervendo (e somos mesmo, né). Meu pai é professor de ecologia e a cada dia que sai uma notícia nova, ele comenta "falei tanto que a conta ia chegar que ela chegou". A gente chegou num ponto que nem é a questão da sacolinha do mercado mais né, é o consumo desenfreado de tudo. Pra que caralho todo ano tem que lançar e TROCAR iphone novo, etc etc.