Caso você não se lembre, existia uma coisa chamada televisão aberta, era de graça, e tinha alguns canais. Era só ter um televisor, uma antena, ligar o aparelho e trocar de canal. Um deles era o SBT.
Lá passava um programa sábado à noite em que um senhor de idade avançada, chamado Carlos Alberto, ficava sentado em um banco de praça lendo jornal. Aí toda hora chegava uma pessoa e contava uma história pra ele. Normalmente as histórias eram extremamente engraçadas, algumas eram engraçadas e outras super sem sal (ao gosto do freguês). Não importa, toda vez esse senhor gargalhava, ria tanto que dava impressão de que até deixava escapar umas gotinhas de urina.
Toda semana passava esse programa e toda vez apareciam os mesmos personagens, contando mais ou menos as mesmas piadas. Tinha muito bordão, um tipo de humor bem repetitivo. Os assuntos eram mais ou menos sobre coisas do cotidiano, umas piadinhas de duplo sentido, umas historinhas de amor furada, gente reclamando de doença e política. Não tenho certeza absoluta que eram esses os temas, mas é isso que me passa pela cabeça.
Estamos em 2023 e você pode ver no YouTube como essas coisas funcionavam. Recomendo ir atrás dos vídeos da personagem Velha Surda (um apelido, o nome de batismo dela era Bizantina), uma senhora que tinha dificuldade para sentar e levantar, falava só o que queria e não ouvia muito bem o que o Carlos Alberto estava dizendo.
Quatro parágrafos já se passaram e eu finalmente explico por que estou falando tudo isso: as redes sociais viraram justamente A Praça é Nossa. Depois de umas duas décadas de mídias sociais entre nós, fica evidente que mudam as plataformas, mas os assuntos são sempre os mesmos.
O senhor idoso sentado no banco da Praça é Nossa é você, os personagens são os assuntos da timeline. A diferença é que tem mais gente on-line, então os assuntos são mais maluquetes, mas são sempre as mesmas conversinhas do cotidiano e uma ou outra encrenca envolvendo doenças e política. Ah, às vezes você é a Velha Surda. Sabe quando se fala uma coisa sem ouvir direito o que tá rolando? E sem se importar com isso?
Esses dias viralizou uma história de um date terrível. O antigo costume de compartilhar histórias de encontros horríveis entre dois seres humanos. Antigamente isso rolava nas praças de interior, depois passaram a contar essas histórias em jornais e revistas, no começo dos anos 2000 diversos programas da falecida MTV Brasil faziam a mesma coisa. Com as redes sociais, obviamente, isso acontece nas redes sociais.
Esse tipo de conteúdo muito me agrada pois é bom demais ouvir histórias de gente se lascando. No dos outros é sempre um refresco. A pedra fundamental viral da semana foi esse tweet - até o momento com mais de 51 milhões de visualizações:
Aparentemente, veja você, todo ser humano teve um problema sério de equalizar expectativa e realidade. Tem milhares de histórias do tipo por aí. Esse aqui foi complicada demais:
Esse aqui HAJA terapia para resolver o trauma:
A essa altura do campeonato esses tweets já viraram prints e estão correndo soltos por Zap de todo o Brasil.
Pois bem, é evidente que não é a primeira vez que os jovens brasileiros se empolgam com histórias de dates horríveis no Twitter. Eu lembro como se fosse ontem quando a Déia Freitas, criadora do impecável podcast Não Inviabilize, puxou o mesmo papo em dois mil e bolinhas (2017 na real). Na época a tag #dateruim ficou nos Trending Topics por semanas.
Esta thread contém ao mesmo tempo uma excelente história de cocô, outro comportamento que move a humanidade desde seu nascimento. A Déia é muito boa na arte de contar histórias.
Logo em breve alguém puxa esse papo outra vez e faz um baita sucesso tudo de novo. Que delícia!!! Viva a internet, viva A Praça é Nossa.
***PS:
Boa tarde a todo mundo que tá pela primeira vez aqui na Dia Sim, Dia Não. Os assuntos da newsletter giram em torno de links para preencher o vazio da existência, chatGPT, cacareapples e cadeiras de escritório.
***DRAUZIO VARELLA DO DIA:
Como anunciado na edição anterior, temos agora uma seção esporádica e com nome autoexplicativo aqui na Dia Sim, Dia Não.
Hoje o destaque vai para este vídeo sobre dor nas costas que começa com as seguintes frases:
“Quantos anos você tem? 15, 20, 30 anos, e já se queixa de dor nas costas. ‘Ai, eu tenho dor nas costas, mas também todo mundo tem’. Não, não. Todo mundo tem, não. Eu tenho quase 80 anos e não sinto dor nas costas”.
***POR HOJE É SÓ
E tá bom demais. Termina aqui a Dia Sim, Dia Não número 96. Volto a qualquer momento com a edição 97. Enquanto isso, fique com o leia mais pois você adora links:
Acho que eu sou a única pessoa que não curte histórias de date ruim. É tudo muito constrangedor! rs