Aviso: leia este post enquanto eles trabalham. Eles quem? Não interessa, o importante é que são eles.
Quem me conhece sabe que eu amo São Paulo. Uma terra de pizzas deliciosas, da melhor programação de cinema que tem, da infinita oferta de toda cultura que seu bolso pode pagar, ponto de encontro de muita gente fodástica, interessante, divertida, inteligente, LOUCA, doida, genial, etc. Eu passaria uns 10 mil caracteres falando bem de São Paulo sem repetir um único item.
Além da deselegância discreta de tuas meninas, São Paulo também é a Terra do Burnout. Não sei o que se passa na cabeça das pessoas nessa cidade, mas é um tal de amar trabalhar até se exaurir ao máximo que puta merda, bicho. E o pior, esse tipo de biruta do mal acha que todo mundo vai fazer o mesmo, vai reagir do mesmo jeito.
Não sei como está a situação na sua cidade, mas SP é assim em muitas, MUITAS firmas.
Trabalhar é tudo de bom. Eu adoro trabalhar, fazer coisas legais, ser útil pra mim e pros outros, pagar minhas contas, dormir em paz sem ter dívidas, etc. Mas tudo nos conformes, no limite aceitável, no tempo que um ser humano aguenta e precisa para dar conta de fazer outras coisas e tals.
Nos últimos dias, tenho visto uma enxurrada de posts e confissões de burnout. Tá cheio de gente por aí confessando que teve um piripaque antes dos 50, antes dos 40, antes dos 30. Em todas as redes sociais. Dá pra ler nas entrelinhas a exaustão estampada nos caracteres das pessoas burnoutizadas. Tem a turma que nem sabe que tá assim mas já recebeu a visita do burnoutinho, seu inimiguinho.
Aí viralizou a frase trabalhe enquanto eles dormem e tenha um burnout. Puta merda, tem que escrever essa frase inteira e postar na rede social como se fosse uma grande novidade? É um negócio tão óbvio que nem deveria estar escrito. Quem escreve algo assim deve estar a cara da exaustão.
Como diria Nelson Rodrigues: “só os profetas enxergam o óbvio”.
Eu prefiro outra frase do Nelson: “o brasileiro é um feriado”.
Pra mim o mais bizarro nesse papo de burnout é o sticker fofinho do Burnoutinho. Foi aí que bateu. É um cérebro prestes a explodir. Com olhos e nariz. Sorrindo. Deve estar olhando pro chefe sem saber o que fazer.
Quando chegamos ao ponto de criar um mascote pra esse sentimento é sinal de que a coisa tá feia. E só rindo pra dar um jeito.
Por essas e outras The Office é uma das melhores séries de todos os tempos. Aquele chefe está em todos os chefes. Se você é chefe e pensou "imagina, eu não sou daquele jeito". Tenho uma verdade pra te contar: é sim, pode ser 0,01% ou 99,9% Michael Scott, mas é um pouco sim.
Se você não é chefe há de concordar comigo que Michael Scott no trabalho dos outros é refresco.
Essa semana até saiu mais uma daquelas listas de 30 pessoas incríveis com menos de 30 anos que são muito bem-sucedidas. Eu leio como 30 burnouts antes dos 30. Não deve ser o caso de todos, claro, mas você entendeu.
Essa semana também bombou muito uma matéria da Folha de São Paulo sobre burnout e a geração millennial, a fadada, a escolhida, para nascer, crescer e morrer com burnout. É a resenha do livro Não Aguento Mais Não Aguentar Mais. Separei um trecho aqui (sem consultar a Folha, pessoal essa newsletter é independente, pelo amor de Jesus Cristo não me processem):
Curioso é que o estereótipo sedimentado sobre os millennials é o de uma juventude mimada, frágil e meio encostada. Petersen, que é doutora em estudos de mídia pela Universidade do Texas, nos Estados Unidos, reconhece de pronto a existência desse rótulo e procura entender a decepção fundamental que o originou.
“Nossos pais nos disseram que somos especiais, que merecemos tudo e que, se trabalhássemos bastante, as coisas iriam ficar bem”, diz a escritora de 40 anos. “E, quando entramos no mercado de trabalho, no final dos anos 2000, perguntamos 'bom, se eu sou especial, onde é que está meu bom emprego?'.”
Segundo a análise da autora, as últimas décadas viram a deterioração de uma série de garantias e proteções que pareciam firmes e sob as quais a geração boomer cresceu e criou seus filhos —como a certeza da aposentadoria e as relações trabalhistas tradicionais. Surgiu no lugar uma nova “economia dos bicos”.
Eu leio tudo isso e penso QUE LOUCURA, BICHO.
Se você chegou até aqui eu tenho uma receita de chá para resolver seus problemas: imponha limites, respeite seu corpo, tire gente tóxica da sua frente e procure um especialista pois milagre não existe. Se preferir não dê a mínima pra nada dito aqui.
Tá, mas olha que bonitinho o perfil burnoutinhotips!!!!! Se liga nas dicas:
***UM PS
Vamos para mais uma seção PS, do esperanto Post Scriptum, escrito depois. Aquela parte do texto que as pessoas que falam demais inventam pois não sabem a hora de parar.
Escolhi enviar essa edição no sábado pois falar de burnout num sábado é um sinal.
***LIMPA LIMPA LIMPA
Como pesou o clima segue anexo um vídeo "limpa, limpa, limpa tudo, limpa todo o ódio coletivo, limpa".
***MISTÉRIO DO DIA
Na última Dia Sim, Dia Não o grande mistério foi: quantos filmes fez Keanu Reeves? E a resposta é 107 filmes, de acordo com o IMDB este é o número de obras em que ele está creditado.
Agora vamos ao mistério de hoje: você é maior, menor ou do mesmo tamanho que eu? Pensa aí e a resposta eu te conto na próxima Dia Sim, Dia Não.
***LINKS DA SMN
A internet é cheia de dicas boas e ruins e eu não quero ficar de fora dessa. Segue anexa uma lista de coisas incríveis e maravilhosas para você:
O segundo episódio da nova temporada do podcast 37 graus me deixou completamente desgraçado da cabeça, o título é “Eles não querem que você saiba”
A entrevista do Mano Brown com o Pastor Henrique Vieira é tudo que você nem sabia que precisava ouvir
A imperdível história da vizinha transuda da Magalíssima é boa demais pois vizinha transuda no apartamento dos outros é refresco
Um post da New Yorker sobre como eram as redes sociais em 1996
***TWEETS DA SMN
Já estamos no fds e vale a pena rever os 5 melhores tweets da smn só pra quem tá precisando de ajuda
***POR HJ BASTA
Por hoje tá ok. Esta foi a vigésima oitava edição da Dia Sim, Dia Não. Não perca tempo e leia as anteriores:
Por que ninguém faz uma nova versão do Esqueceram de Mim?
Viúva Negra, Lucy e Her são uma trilogia
Já imaginou ficar um dia sem conteúdo novo?
Lorde, eu também odeio o inverno
"imponha limites, respeite seu corpo, tire gente tóxica da sua frente e procure um especialista pois milagre não existe." - praticando este mantra desde o começo da pandemia. E percebendo que muito das minhas crises de ansiedade eram causadas por esses motivos (quem diria, não é mesmo? Minha terapeuta tentou me avisar rs).