Em 1974, John Patterson era funcionário do Serviço de Relações Exteriores do Estados Unidos no México. Ele levava sua vida de boa quando foi sequestrado pelo Exército Popular de Libertação do México e só 500 mil dólares o libertaria dessa situ. Foi uma loucura. A negociação teve de envolver até o presidente dos EUA. A história é eletrizante, digna de filme de tirar o fôlego. Para saber mais sobre o caso, você pode ler esta reportagem da revista The Atlantic, resultado de nove anos de apuração do jornalista Brendan I. Koerner.
É assim que eu aprendi a contar uma história descoberta por outra pessoa. Em geral, descrevo uma parte, depois já digo logo o nome do autor e boto o link pro trabalho dele. Nem todo mundo faz isso.
Em uma thread no Twitter, Brendan mostrou como fizeram um podcast inteiro sobre a história da reportagem sem dar nenhum crédito pra ele, pra um trabalho de nove anos. Nove anos. Nem que fossem nove dias. Soube disso por uma reflexão publicada no Vox sobre como tudo anda igual nas redes sociais. E o thumb deles representa perfeitamente o que é a cópia na internet:
Resolvi “me inspirar” e deixar minha contribuição sobre o mesmo tema.
Isso me lembrou o podcast A Mulher da Casa Abandonada, apuração do Chico Felitti sobre uma escravocrata que vive em São Paulo sem nunca ter pagado por seus crime. A história virou conto de terror quando foi parar no TikTok, chegaram a descrever a senhora como uma doida e até como fantasma. Alguns vídeos não citaram o trabalho jornalístico envolvido. Cada conto contou um ponto.
Quem nunca se deixou levar pela preguiça na hora de fazer um trabalhinho de escola chatíssimo e resolveu simplesmente copiar o do coleguinha? Ou pior, fez o contrário, deixou o colega folgado copiar o seu trabalho? É o famoso “copia, só não faz igual”. Dependendo da intimidade você podia até falar “tá, copia essa merda, mas não faz igual senão você me fode”.
Copiar sem fazer igual é entrar na dança da moda e ser parte da turma. O problema é que nem tudo é tarefa pra depois da aula. E justo agora estamos numa fase das trends na internet, que consiste em todo mundo fazer algo… igual. Todo mundo não é 100% das pessoas, mas é muita gente pois tem trend com bilhões de visualizações.
Ser parte de uma turma não é problema, o complicado é ser só isso, não produzir mais nada de novo. Originalidade é o caraio, meu nome é papagaio. Estamos na fase do “eu também sei dançar essa coreô”, “eu tenho irmão, vou trollar ele igual você e vamos hitar juntos”, “também sei ler a Wikipedia e os arquivos da Superinteressante pra te contar uma história repetida”. Quem nunca? Quem sempre? O povo gosta, mas não dá pra plagiar o carisma.
E tem muita gente lucrando com isso, apenas copiando e colando, sem mudar quase nada. Aí já acho esculacho, é pagar aluguel usando da safadeza. Lembra do perfil Nazaré Amarga? Um troço ultra básico, cheio de frases feitas e conteúdo plagiado na caruda. Esse ano mesmo teve polêmica sobre isso, vide este tuíte.
Ele é só mais um num mar de reproduções infinitas. Veja esse caso do arroba omusojoao, dia 8 de agosto de 2022 às 21h55 foi postada a frase “‘dinheiro não traz felicidade’ verdade na quantidade que eu ganho não””. Uma busca simples no Twitter mostra o quanto essa mesma pensata rodava há tempos por aí, mas com bem menos engajamento. De tweet em tweet o admin vai ganhando seguidores.
E essa galera ganha muita grana com publicidade pois o importante pro farmacêutico é vender remédio, não interessa se a farmácia tá no Leblon ou no Meier.
E isso nem é de hoje. Antigamente, o site Catraca Livre fazia jornalismo literalmente copiando e colando o conteúdo de outros veículos, textos inéditos, ilustrações, fotos originais, era uma baixaria. Hoje nem sei por onde anda. E lembra do blog Kibe Loco? Era só conteúdo dos outros e o ato de “roubar” um conteúdo na internet ganhou o nome de “kibe”.
Eu não sei você, mas acho tudo isso um porre. Fica tudo igual, sempre a mesma coisinha. Fica esse bando de cachorro usando roupinha pintada pra parecer Dálmata. E pra que isso??? Seja você.
O problema é que criar dá muito trabalho. Cabe a cada um decidir se vai dar cliques pra quem faz o mais do mesmo ou se vamos dar palco pra quem faz alguma coisa diferentona. Uma coisa é certa: o ctrl c, ctrl v e o plágio descarado nunca vão acabar.
***PS
Recomendo jogar “The Voice Kibes” na busca.
***POR HOJE É SÓ
Esta foi a Dia Sim, Dia Não número 63, logo logo chega a 64 na sua caixa de e-mails. Mas não vá embora agora, fique com o leia mais: