Uma viagem pelas definições de "cringe", "fds", "molhar o biscoito", "semibissexual"
Lembre-se que a internet está aí para as pessoas julgarem umas as outras sem motivo
Uma das coisas mais importantes da internet é todo mundo falar sobre um mesmo assunto ao mesmo tempo. Você pode até estar pensando que *todo mundo* é muita coisa e “você não é todo mundo”. Ok, mas no fundo, no seu âmago, no seu inconsciente, você sabe que é *todo mundo* sim.
Quando o ano começa o *todo mundo* da internet discorre incansavelmente sobre o Big Brother Bragil. Depois, os temas mudam muito e surgem do nada. O papo que domina todos os canais da internet há muitos meses é o fato do Brasil ser um país com um governo criminoso. Mas aqui e agora isso não vem ao caso.
Nos últimos dias, as pessoas entraram numas de falar sobre o termo cringe. Os brasileiros foram crinjados à exaustão. Caso você não saiba do que se trata cringe, estamos falando de um sentimento de vergonha alheia. Você também poderia chamar de micão. É tudo a mesma coisa. Eu sinceramente senti muita alegria ao ver centenas de milhares pessoas gastando energia numa amenidade dessa estirpe.
O que tem destacado o cringe de outros assuntos é que se trata de uma verdadeira guerra de gerações. A vergonha alheia específica é da turma da geração Z em relação aos costumes dos millennials. Estamos falando de todo um combo de comportamentos.
Ao que parece, um dos micos julgados é o ato de tomar café da manhã diariamente. Eu que amo café da manhã há muitos e muitos anos, fiquei revoltado com isso e sinto desprezo por quem não tem o prazer de tomar um bom café da manhã. Ou um café da manhã mais ou menos. Na verdade não existe café da manhã ruim, ruim é não apreciar esse momento por puro charminho. Coisa de jovem ansioso.
Assistir à série Friends mil vezes e ao filme Harry Potter sem parar também é cringe. Comprar cacarecos inspirados nessas obras também é.
Escrever fds para se referir ao fim de semana também é coisa de millennial. Pelo que me contaram os jovens usam fds quando querem escrever foda-se. Eu queria saber o que as pessoas fazem com o tempo que sobra ao economizar a digitação das vogais o, a e e.
Usar a rede social Facebook também seria coisa de gente cringe. Bom, eu vou ter de concordar com os mais jovens pois do Facebook só sai micão.
Também me chamou muito atenção que o uso de calça skinny é motivo de julgamento por parte da geração Z em relação aos mais antigos. Não entendi essa, afinal o mais importante é que cada um use a roupinha que achar mais interessante. Mas a internet está aí para as pessoas julgarem umas as outras sem motivo. Na verdade, todos os seres humanos só estão vivos pois passam o tempo todo julgando uns aos outros.
O tweet que mais me marcou sobre este tema na verdade foi um soco na cara da sociedade brasileira.
No meio desse papo todo, alguém compartilhou um link de um site chamado Dicionário Informal. Não lembro quem compartilhou para dar o crédito, porém muito obrigado. Esse site é uma espécie de Wikipedia de termos e definições. Palavras de baixo-calão do jeito que o povo adora são aceitas por lá.
A audiência deles deve ser altíssima pois a busca por palavras soltas no Google muitas vezes aponta pra lá. Com isso, o top 20 dos termos mais populares deles é o mais puro ouro do que está rolando na boca do povo internauta.
O primeiro lugar, obviamente, é o termo cringe, que é definido como “é comumente usado em vídeos na internet para se referir a uma situação tão embaraçosa que se torna desconfortável de presenciar ou assistir”. Uso numa frase: “Felipe Neto é cringe”.
Em seguida vem hétero top. Entre os diversos significados estão “esteriótipo de pessoa que não se distoa do padrão. Pessoas com ego inflado, personalidade vazia e se veste conforme o grupo em que está inserido. Normalmente fã de sertanejo universitário, funk e cultua o alcoolismo”. Uso numa frase: “O Lucas puxou a menina pelo braço na festa, coisa de hétero top”.
Logo depois vem mandrake, essa me surpreendeu. A definição mais popular é “alguém que tem um estilo chave - Quem só usa roupa de marca - Alguém que é muito bom em Roubos - Um Bandido (a) (Pode ser usada da forma feminina e masculina)”. Uso numa frase: “Parça aquele Carinha la é mandrake, conseguiu roubar uma Suzuki”. Bom, com o índice de criminalidade do Brasil, não deveria ter me surpreendido com esse verbete.
Dois termos super moderninhos, que são a cara da geração Z, apareceram na lista: normie e drip. A definição de normie é “refere-se a pessoas que usam mídias sociais populares e acreditam na opinião popular. Eles não pensam por si mesmos, se algo é considerado "ok" eles farão isso, mesmo que isso os torne monstros”. Ou seja, temos aqui, praticamente, a descrição de comportamento de manada. A aplicação numa frase explica um costume terrível de um normie: “Aquele meme tava maravilhoso, até chegar um monte de normies e cagarem tudo”.
O drip já é algo que todo jovem quer ser. “ter drip é ter estilo próprio e atitude! Ser uma pessoa única”. O uso numa frase é meio preguiçoso, mas dá pra entender: “Ele se veste bem, esse cara combina com tudo! Ele tem o drip!”. Aqui voltamos ao começo deste texto, as pessoas querem ser diferentonas, mas de repente acabam todos sendo drips junto com *todo mundo*.
Uma série de termos deste top 20 estão relacionados com o que a galerinha mais gosta: gozar. “T****l”, “B****a”, “Chá de b****a” e “S**o o**l”. Aparentemente, tem muita criança com acesso ao 3G dos pais. Eu usei uns asterísticos (SIC) para evitar certos constrangimentos.
A expressão antiga e super cringe “molhar o biscoito” também está nesse top 20. A definição: “transar. Afogar o ganso, por pra dentro, esvaziar o saco, passar a rola”. O uso numa frase: “O zé está há quase 2 meses se molhar o biscoito, coitado!”. Na moralzinha, eu achava que sair por aí falando molhar o biscoito estava muito fora de moda, que coisa mais cringe.
De todos os termos dessa fascinante viagem pelo mundo dos verbetes modernos, o que mais me chamou atenção foi semibissexual. Uma das definições é “uma pessoa que é bissexual, mas tem atração por apenas um gênero”. O uso em uma frase: “Ser hétero já passou, agora a onda é semibissexual”.
Interessante. Parece mostrar uma ansiedade estranha de se definir uma pseudo sexualidade. Eu não entendo muito de gênero, mas é de conhecimento público que todos os seres vivos nascidos a partir de 1995 são bissexuais. Por essas e outras, essa coisa de semibissexual me salta os olhos. Não vejo motivo pros jovens se preocuparem com isso, mas jovem sempre tende a gastar energia com detalhes em vez de simplesmente sair pra beijar. Faz parte da vida. Cada um faz o que acha melhor.
PS: Na semana passada escrevi aqui na Dia Sim, Dia Não sobre o possível efeito borboleta do Tiago Leifert apresentando o Domingão do Faustão. Pois é, essa semana Faustão foi demitido por antecipação e agora os brasileiros precisam ficar em casa em plena pandemia. E sem o Faustão. Além disso, os espectadores não tiveram a chance de ouvi-lo se despedir do público no palco do próprio programa. Que loucura. Fica a lição para todos os workaholics desse país.
***MISTÉRIO DO DIA
Na edição passada da Dia Sim, Dia Não nosso grande mistério foi: Por que não devemos guardar o quibe no freezer? A resposta é: porque lá ele esfirra.
O mistério de hoje é: quantos dias faltam para começar o verão no hemisfério sul do planeta terra? A resposta eu revelo na próxima edição da Dia Sim, Dia Não.
***PENSAMENTO DO DIA
Hoje começou o inverno. Foi exatamente à 00h32, horário de Brasília. Esta estação de pés congelantes vai até às 16h21 do dia 22 de setembro.
Pense nisso.
***O QUE SOBROU DO CÉU DO DIA
Agora vamos com imagens gravadas de como estava o céu.
***POR HJ BASTA
Por hoje tá bom. Se você perdeu outras Dia Sim, Dia Não, tudo bem, seja cringe e leia todas de uma vez enquanto está aí no banheiro esperando:
O que aprendi com "Tem que vigorar!", um dos livros mais vendidos do Brasil
Com um microfone em mãos Tiago Leifert dita o mito da caverna para o povo brasileiro
Um dia vão desligar a internet e isso tudo vai desaparecer
Juliana Paes mostra opinião demais e web vai à loucura