O grande didatismo da pira olímpica
Como diria o Kid Abelha: "Nada sei desse mar. Nado sem saber".
Já estamos na segunda semana de pira olímpica. Que delícia, que alegria abdicar um pouco da realidade para sentir felicidade justo em um momento tão europeu da história do Brasil (com fascismo, peste, miséria, neve, etc).
Em toda edição dos Jogos fico impressionado com o didatismo de todo mundo que narra as modalidades esportivas não tão populares. Enquanto vemos lindas imagens de lindos atletas ouvimos aulas, seminários, conferências, explicando tudo, são apontamentos, comentários, detalhes, pontos positivos e negativos. Sempre num papo tão leve que os mais desatentos nem percebem a burocracia.
A ginástica é um bom exemplo. Por mais que a gente saiba o nome e sobrenome da galera, nem todo leigo manja das regras. E aí somos expostos às explicações sobre o que significam os saltos, a aterrisagem, onde pode pisar sem estragar tudo, o que vale mais nota, o que vale menos, etc. Onde os sonhos realizam e onde tudo se esvai pelo ralo.
Interessante para pessoas como eu, que não costumam nem dar uma simples cambalhota, ter a honra de aprender tanto, e de graça, sobre o que acontece com pessoas desafiando a gravidade. Apesar de tudo, por aqui se mantém uma torcida enorme pra todas as atletas voarem, correrem e chegarem sãs, salvas e sem cair. E com notas altas, não importa quais, aos olhos de quem trabalhou tanto para isso. Deu certo duas vezes pra Rebeca, o que ainda resultou na melhor foto dos Jogos:
O judô é outro clássico. Desde a olimpíada de Atlanta em 1996, a primeira que tenho memória, lembro da galera explicando infinitamente o que é um ippon, um ícon, um ipo, um vazare (será que acertei os nomes?). E como eu tenho uma memória horrível, sempre parece uma novidade. A única coisa que eu sei é o ippon que acaba com a luta e a esperança. Toda vez que a olimpíada começa eu lembro que sei essa regra, se é que me entende.
Outra coisa é o vazare, que pra mim significa sair muito rápido de um ambiente. Por exemplo, dar um vazare na festa de fim de ano de firma depois que o chefe vai embora. Dar um vazare em qualquer lugar chato que você foi só pra agradar alguém. Apesar de que em tempos de pandemia não existe evento chato, tudo é legal. E com sorte não vai ter festa de firma nunca mais em nenhuma empresa.
Esse ano quem teve a honra de assistir ao surf na TV também teve um intensivo sobre todas aquelas belíssimas manobras com nomes de música dos Red Hot Chili Peppers “front drop jump under the bridge furfles Californication”. O surf só não foi mais bonito porque aquela praia era muito feia. Puta merda, acho que foi a praia mais feia já vista na história dos Jogos Olímpicos.
E enquanto escrevia essa newsletter aprendi que a dupla masculina da canoagem é tão boa que resolveu ficar em terceiro lugar na primeira fase porque queriam. Os caras têm um controle e domínio da técnica tão incrível podem fazer esse tipo de escolha. Apesar de tanto conhecimento, não rolou a medalha pra eles. Esporte é esporte, diz o pensador.
Um mistério pra mim é o esporte vela. A explicação de como funcionam as regras pra mim é como falar algo em grego. E grego antigo, do tempo da criação dos Jogos em 1896. Porém, parabéns ao Iate Clube do Rio pelo alto investimento no esporte caríssimo e suas conquistas.
Essa avalanche de tutoriais demonstra uma resiliência assustadora de todo mundo envolvido. Eu, que não tenho a menor paciência pra certas pessoas, jamais poderia fazer um negócio desses. Ao mesmo tempo, todas as vozes narrando passam um grande prazer pelas explicações, afinal esse é o grande momento do esporte em anos. Pensando bem, eu também teria prazer em contar algo muito legal pra tanta gente. Como é bom se contradizer antes de finalizar um parágrafo.
Alguns esportes parecem ser de mais fácil compreensão, como os atletismos em geral. Em geral são mais autoexplicativos, quem chega primeiro, leva a melhor. Quem joga mais longe ou pula mais alto, pronto, ganhou. Mas aí a gente começa a assistir e os abençoados da transmissão sempre tem algo a nos ensinar. Fora os atletas, esses sim têm MUITO a nos ensinar. Basta largar o celular de lado e prestar atenção ao texto. Vide o Malvadão no vídeo abaixo:
Como diria o Kid Abelha: "Nada sei desse mar. Nado sem saber".
***A TARDE É LONGA
NOVIDADE!!! Amanhã, dia 4, às 21h00 minha amiga Juliana Kataoka e eu começamos nossas transmissões na Twitch. Segue a gente no link anexo twitch.tv/atardeelonga
Vamos falar de um tudo no canal, nesta quarta receberemos o Raphael Evangelista, que leva alegria para a Internet nas costas há muitos e muitos anos. O tema programado é justamente a Olimpíada, mas quem sabe faz ao vivo como já diria o mestre.
***MISTÉRIO DO DIA
Na edição passada da Dia Sim, Dia Não o grande mistério foi: qual o tamanho da pira olímpica? A resposta é muito fácil, é o tamanho dos seus sonhos.
Agora vamos ao grande mistério de hoje: quantas medalhas olímpicas o Brasil já ganhou? A resposta você fica sabendo na próxima edição da Dia Sim, Dia Não.
***TWEETS OLÍMPICOS
Se tem uma galera que nunca ganha nada, mas merece muito reconhecimento é o pessoal do Twitter que quer participar, fazer parte, mudar o mundo usando caracteres e comentários engraçadinhos. Pois vamos a algumas dessas melhores contribuições.
***POR HJ BASTA
Por hoje tá bom demais pois os Jogos Olímpicos continuam e só temos mais cinco dias desta grande festa da carne. Enquanto o pessoal dorme em Tóquio, leia outras edições da Dia Sim, Dia Não.
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