10 perguntas para o Orkut, sim, o criador do Orkut
Como todo gringo, ele ama caipirinha. Sim, gastei tempo de uma entrevista exclusiva e internacional com essa pergunta.
Para surpresa de ninguém, 2022 começou DAQUELE JEITO com uma série de situações que transformam a abertura do Jornal Nacional numa espécie de prenúncio do apocalipse. Mas aqui não. A primeira edição desta Dia Sim, Dia Não em 2022 vai te levar para o passado, lá onde tudo está resolvido, onde a nostalgia nos traz o conforto de saber que nada de ruim vai acontecer, já tá tudo resolvido. Vamos voltar ao Orkut.
Ano passado aconteceu a primeira entrevista exclusiva aqui para a Dia Sim, Dia Não com, sim, ele mesmo, o homem que dá nome à primeira rede social que o Brasil amou: o Orkut. A conversa também foi publicada no Quicando, podcast que apresento com minha amiga Juliana Kataoka, no episódio publicado ontem, sexta dia 7, e você pode ouvir neste link.
Juliana Kataoka e eu passamos quase uma hora conversando sobre a saudosa rede social, o Brasil e a internet que a gente tem hoje, churrasco e caipirinhas. Foi muito legal ouvir opiniões sobre assuntos sérios como bullying, saúde mental e assédio e, ao mesmo tempo, rir sobre o comportamento dos brasileiros nas redes sociais.
Temos os melhores momentos do papo abaixo para você ler imaginando nossas risadas entre uma pergunta e outra.
1 - Você não achou que as pessoas poderiam te considerar muito egocêntrico colocando o seu próprio nome na rede social que você mesmo estava criando?
Isso é meio engraçado pois muitas pessoas não sabiam que Orkut era uma pessoa real. Lembro que uma vez alguém me perguntou se o meu nome foi dado pelos meus pais depois que o Orkut.com foi lançado.
Eu estava trabalhando com redes sociais desde o ano 2000, quando era estudante em Stanford. E eu tinha criado uma rede social para alunos da graduação e pós-graduação. Um ano depois, entrei para o Google como engenheiro de software. Naquela época eles deram aos engenheiros a liberdade de gastar 20% de seu tempo trabalhando em qualquer projeto de que gostassem. Perguntei ao meu gerente se poderia criar uma rede social para todos usarem globalmente, não apenas para estudantes, e ele me autorizou.
Então, comecei a trabalhar em um projeto chamado Eden. E o Eden significava um lugar maravilhoso, para as pessoas se reunirem, como o paraíso. Eu era o único engenheiro trabalhando nisso. Quando estava para ser lançado, descobrimos que o domínio Eden não estava disponível. O CEO da época, o Eric Smith disse “por que você não lança como orkut.com, é um nome único, com apenas cinco letras, você tem o domínio e é a única pessoa que trabalha neste projeto”. Então, no último minuto, decidimos registrar e lançar como orkut.com
2 - O Orkut era bem diferente das redes sociais de hoje em dia, como você vê a relação das pessoas com as redes sociais hoje?
As mídias sociais têm mudado drasticamente na última década, e não de uma forma positiva. Olhando pro orkut.com e todas as memórias que temos, nós nos divertimos muito, fizemos amigos, nos apaixonamos, alguns casaram e tiveram filhos. E todos esses são momentos felizes.
Então, se você olha para as mídias sociais hoje, nós constantemente sentimos que não somos bons o suficiente. Você não é inteligente o suficiente, não é popular o suficiente e, em vez de criar um atalho e nos conectar uns aos outros, hoje em dia os posts trazem ansiedade, depressão, solidão e infelicidade.
Porque o que colocamos no feed hoje não é quem somos, é apenas o que fingimos ser e todos estão tentando se encaixar e seguir a multidão. Como resultado, não é tanto aquela experiência que a gente costumava ter antes. Por isso, quando compartilho qualquer coisa me certifico de que seja genuíno e autêntico, divertido e significativo.
3 - Eu lembro que quando o Orkut foi lançado passei um dia inteiro indo atrás de pessoas que tinham convite para entrar na rede. E foi uma comoção, de uma hora pra outra todo mundo queria estar no Orkut. Rapidamente todo mundo queria entrar nas comunidades e se conectar com os amigos. Depois de tanto tempo, você tem ideia de por que os brasileiros se envolveram tanto com o Orkut?
Nós começamos a crescer muito rápido no Brasil e em alguns países demorou alguns anos para a rede ser popular. Algumas pessoas me perguntam se eu sou brasileiro, se eu moro no Brasil, se tenho namorada ou namorado brasileiro. Eu digo a eles e acho que as redes sociais realmente tiveram força no Brasil porque os brasileiros são amigáveis, super fãs, loucos e apaixonados por tudo que fazem na vida. E também são muito curiosos sobre as novas tecnologias.
Eu gosto da paixão que vocês têm por tudo que fazem na vida. Seja com a família ou fazendo um churrasco, eu amo essa alegria de viver. É muito importante. E também adoro como as pessoas se encontram no fim de semana e como elas se desconectam dos telefones. Pude perceber essa parte cultural nas várias visitas que fiz ao Brasil.
Logo antes da pandemia de covid começar, eu estava no Rio em um pequeno restaurante e também tinham umas pessoas adolescentes por lá. Nós começamos a conversar e descobrimos que eles se conheceram no orkut.com, mantiveram a amizade e passam tempo juntos até hoje. Me parece que nas redes sociais de hoje em dia não é muito comum encontrar alguém no Facebook ou Instagram, virar amigo e começar a sair por aí. É incrível ver que esses relacionamentos se formaram e continuam.
4 - Você já veio quantas vezes pra cá?
Eu diria entre cinco e dez, talvez.
5 - Caramba, muitas vezes. Já que você já mencionou o Brasil, tem algumas perguntas que a gente gosta de perguntar para nossos amigos gringos e a gente vai aproveitar e fazer o mesmo com você pois agora somos amigos. O que você mais gosta da comida brasileira, já experimentou brigadeiro? Qual sua comida brasileira favorita?
Sim, eu amo. Acho que nunca comi nada de que não gostasse, mas gosto muito da cultura da carne brasileira. E eu gosto de restaurantes do tipo que existem em São Francisco, onde eles trazem carnes, frangos e até as saladas são incríveis. É muito bom poder vivenciar essa cultura também nos EUA.
6 - E você gosta de caipirinha? (pergunta primordial para se fazer para qualquer gringo)
Amo caipirinhas e sempre que vou ao Brasil tomo muita caipirinha, sempre gosto de tirar uma foto e postar nas minhas redes sociais. E as pessoas contam quantas caipirinhas eu tomei.
Uma das minhas lembranças favoritas foi em um congresso em São Paulo quando as caipirinhas sempre me aguardavam nos bastidores. Eu mal posso esperar para voltar. Eu deveria ter ido em 2020 em uma conferência na capital do Brasil, mas foi cancelada por causa da COVID. Portanto, estou ansioso para voltar.
7 - E qual sua cidade favorita?
Sabe, gosto muito de Porto Alegre, como os espaços e locais são todos pequenos e pessoais, sempre muito criativos. Seja um restaurante, uma cafeteria ou uma boate. Gosto de São Paulo porque como tudo que você precisa, você encontra em São Paulo. E no Rio, gosto de como toda conversa começa com “vamos para a praia”.
8 - Voltando a falar do Orkut, a gente tem algumas curiosidades. Não sei se você lembra mas nossa vida, nossa rotina, nosso dia a dia mudou completamente quando vocês começaram a mostrar quem tinha entrado no nosso perfil. A gente era adolescente na época, tinha muito tempo sobrando, e isso causou um estrago, um rebuliço. Então, nos diga, quem teve essa ideia? O que rolou?
O orkut.com tinha uma experiência de usuário diferente porque não era algo baseado no feed, como é em qualquer rede social que usamos hoje. Era mais sobre explorar e encontrar pessoas. O recurso dos recados no mural (os scraps) era muito popular. E na época uma das coisas que os usuários gostariam de saber era quem olhava ou visitava seu perfil. E a maneira mais óbvia de fazer isso vir à tona foi contar para os usuários sobre essas visitas adicionando esta ferramenta. Então, nós achamos que isso seria divertido, mas teve consequências muito surpreendentes.
(A partir daqui ele já continua rindo)
Você sabia que quando seu ex-namorado ou ex-namorada via seu perfil. Foi uma grande surpresa para todos nós.
9 - Outra coisa que mudou o jeito como a gente se comunicava, como a gente escrevia na internet, foram os depoimentos. Até hoje a gente escreve coisas do tipo “o que dizer dessa pessoa que conheço pouco mas amo tanto” quando alguém faz aniversário e postamos uma foto no Instagram. Sem contar os depoimentos que não eram para serem aceitos, mas as pessoas publicavam e também causava uma certa confusão.
É muito engraçado isso sobre os depoimentos, principalmente quando tínhamos pessoas usando depoimentos para mandar mensagens secretas pensando que ninguém iria ver, mas as mensagens eram publicadas. Eu lembro que houve muito drama nessa fase.
E os depoimentos em geral eram um lugar que aproximava as pessoas, as faziam se sentir melhor, porque você falava sobre seus amigos de uma forma positiva. E veja como as mídias sociais hoje se transformaram em lugares onde todas as pessoas, incluindo perfis de cachorros e adolescentes, recebem algum tipo de assédio e bullying online. Veja como informações falsas estão afetando as eleições nos países. Portanto, temos que usar o poder da tecnologia e das comunidades para criar espaços sociais que criem um mundo melhor e de maneiras significativas.
Acho que, mais do que nunca, precisamos de espaços como o orkut.com para aproximar as pessoas e é por isso que comecei uma nova jornada chamada Hello, o hello.com. Nós projetamos toda a nossa experiência para conectar as pessoas em torno do que elas gostam. Nós pensamos nisso para tornar muito mais fácil iniciar conversas e conectar-se com as pessoas através do que elas gostam.
10 - Pra terminar a gente queria ouvir de você sobre a vez que você foi bloqueado do Tinder aqui no Brasil. Justo no Brasil.
Ai meu Deus, é uma história engraçada. Então, eu estava no bar tomando uns drinques com minha amiga Camila e depois deveria me encontrar com um garoto fofo que conheci no Tinder. E de repente a comunicação caiu. E eu estava bloqueado no Tinder. Então, escrevi um tweet rápido dizendo “alguém tem um contato no Tinder” e foi meio engraçado, meu tweet viralizou em toda a internet, estava nos jornais do dia seguinte. E a pessoa viu meu tweet, me encontrou no Instagram e me mandou uma mensagem.
***OUÇA O QUICANDO
E na edição do Quicando com o Orkut tem perguntas que não entraram aqui na newsletter porque a vida é assim, cheia de surpresas. Ouça na Deezer, tem um trechinho abaixo pra você ter uma ideia do que te espera:
***MISTÉRIO DO DIA
Na última Dia Sim, Dia Não o grande mistério foi: quando será que vem a próxima edição desta Dia Sim, Dia Não??? E pois é, a newsletter chegou no seu email em pleno sábado 8 de janeiro. E com uma novidade: acabaram nossos mistérios. Ano novo, piras novas.
***É ISSO POR HOJE
Ficamos assim, então, vamos nos falando. Você por aí e eu por aqui. Essa foi a Dia Sim, Dia Não #33. Enquanto a 34 não chega, leia as anteriores, não perca esta oportunidade: