Me acorde quando setembro amarelo acabar
Defender a democracia também é cuidar da saúde mental.
Democracia é o que muitos chamam por aí de "a maior que temos". Talvez “a melhor que temos” seria mais apropriado, mas o meme é “a maior” então é assim. Continuando, democracia é a maior que temos pois não é perfeito com ela, mas seria MUITO PIOR sem. Inimaginável. Essa semana tenho pensado muito nela e na urna eletrônica. Duas queridas. Na verdade não consigo falar de outra coisa, sair de uma conversa sem mencioná-las, escrever sobre outro assunto aqui nessa newsletter. Vamos de parágrafos sobre isso. É sobre isso.
Daqui a alguns poucos dias teremos nosso lindo encontro com a urna eletrônica. Eu não vejo a hora de ouvir o PIRILILIL depois dos meus votos. Lembro que a primeira vez que votei foi numa urna eletrônica. Antigamente, nos primórdios, no tempo do Onça, a eleição era em papel. Bicho, eleição em papel, imagine que ultrapassado? Era o melhor para a época, mas hoje é uma verdadeira porcaria.
Minha primeira eleição foi uma em que votei para prefeito e vereador em 2004. Só na outra, em 2006, votei para presidente. Lembro até hoje em quem votei para presidente, governador e senador. Esse ano será minha quinta eleição votando pra presidente, o que significa que eu sozinho votei mais vezes que muitos brasileiros. Ou a mesma quantidade de vezes que muitas pessoas bem mais velhas que eu. Porque a democracia que temos começou em 1988, só tem 34 anos.
Isso me lembra que em algum momento no passado (não vou pesquisar o ano, tá?) a diretora Petra Costa fez um filme sobre a terrível situação política do Brasil e disse que a democracia tinha a idade dela. O documentário Democracia em Vertigem tinha mais de hora da diretora narrando a história naquele tom meio professoral, meio queria estar morta, meio angústia infinita. Recursos audiovisuais a parte, essa obra inspirou um gênio desconhecido (também não vou atrás do nome do autor, ok?) a fazer uma paródia em áudio da diretora falando como se fosse um filme sobre a pandemia de covid-19. Eu amo esse texto e destaco minhas partes favoritas:
“O mundo mudou e eu sinto que eu mudei também. Já não saio para os lugares que gosto, faço meu próprio café e lavo eu mesmo minha própria louça. Me sinto inteira.”
“Me sinto confinada na minha própria casa como um caracol. Procuro me manter sã. Ontem dormi no chão da cozinha, hoje dormi na sala do terceiro andar, amanhã creio que vou dormir no salão de jogos ou na sauna seca. São formas de burlar a quarentena, pelo menos em minha cabeça”.
Pensa que isso aí foi em abril de 2020. Tava todo mundo fudido e trancado dentro de casa por causa da pandemia e não tinha a menor perspectiva de nada mudar em curto prazo. Nisso a economia foi pro espaço, pessoas perderam emprego, casa, passaram fome. Foda que demorou pelo menos um ano para a vacinação no Brasil engrenar, mesmo com a Pfizer correndo atrás do governo para despejar milhões de vacinas nos nossos braços.
Faltou oxigênio em Manaus, pessoas encheram a cara de remédio nada a ver, desrespeitaram os mortos, o luto e a dignidade de milhões de brasileiros. Aquele plano de saúde maldito enganou famílias inteiras com ajuda do governo. O Paulo Gustavo morreu. Nicete Bruno, Aldir Blanc, Ismael Ivo, Nelson Sargento morreram. Seus parentes morreram. 686 mil brasileiros morreram. Tudo isso culpa do pior governo que a democracia brasileira já viu. E ainda tem gente que acha ok votar no líder dessa desgraça. Querem que a gente continue vivendo numa tragédia de país.
Falar nisso me lembrou do setembro amarelo. O mês da campanha para promover o cuidado com a saúde mental também é o último mês de campanha eleitoral. Quem criou essa data estava querendo dar um recado pra gente, mesmo que de forma inconsciente. Pois, sinceramente, não adianta cuidar da saúde mental se os principais funcionários públicos do Brasil trabalham para achincalhar o psíquico de toda a população.
Agora estamos chegando quase ao fim deste mês, falta muito pouco pra gente acordar, então deixo aqui minha pergunta para você: em que momento o seu setembro foi mais amarelo?
Você pensa daí, eu não vou esperar a resposta pois textos não são ao vivo. Mas como essa newsletter é minha, compartilho o meu momento.
Pra mim o setembro foi mais amarelo quando o jornalista Leão Serva pegou o celular daquele deputado escroto e o arremessou pra bem longe. Caso você não se lembre, um deputado escória do lixo ofendeu a jornalista Vera Magalhães nos bastidores de um debate. Isso tem umas duas semanas mais ou menos. Enquanto a cena lamentável ocorria, o senhor de belíssimo nome Leão Serva saiu correndo, apareceu do nada, tirou o celular das mãos desse lixo e jogou longe. Nesse exato momento o meu setembro foi mais amarelo.
Não tem jeito melhor de defender a democracia do que deixando claro para esse tipo de gente como se faz uma sociedade: com respeito e jogando pessoas como ele no lixo da história. Defender a democracia também é cuidar da saúde mental. Tem ações que valem por meses de terapia, por isso vote neste domingo.
***PS:
Recomendo mais newsletters sobre eleições pois sei que você também só pensa nisso:
Brasil em metamorfose - Aline Valek
Sobre Bolsonaro - Daniel Duncan
eu destruirei vocês #47: a festa da democracia - Isabela Thomé
***POR HOJE É SÓ
Essa foi a Dia Sim, Dia Não número 67. Vem aí a edição 68, enquanto isso leia mais, você adora leitura: