Meu obituário do Twitter versão 2024
Não vou me espantar se eu fizer outros desses em 2025 e/ou 2026.
Não li e assinei os termos do contrato do cadastro do Twitter em abril de 2008, pelas minhas contas são 16 anos rindo de conteúdos birutas. Em breve teria mais tempo de vida com Twitter do que sem. Não lembro nem como era o mundo antes disso. Nos primórdios existiam outras redes sociais, mas nada era como o Twitter e sua baleia voando.
Sou do tempo que Marcelo Tas e a Rosana Hermann eram os mais seguidos do site, com mais ou menos 10 mil seguidores. A falecida MTV Brasil era a TV mais popular. Em nível global, o Ashton Kutcher tinha mais seguidores que a CNN e o Marcos Mion pediu ajuda dele para derrubar o Sarney contra a corrupção Feijoada! Samba!
Foi no Twitter que pudermos ficar mais perto das celebridades. A Xuxa abriu um perfil lá e popularizou o jeitinho dela de ESCREVER TUDO EM CAPS. Susana Vieira disse que criou Twitter para falar com os fãs, pois com artistas ela pega o telefone e liga. José de Abreu falou loucuras e inflamou a extrema esquerda. O autor Aguinaldo Silva chamou seu colega de profissão Walcyr Carrasco de Walter Carrasco. A Vera Fischer deixou claro que não odeia pobres.
No âmbito dos populares, teve o rito de passagem que marcou o fim do Flix, Flicts, Floptus, sei lá o nome, aquele penduricalho que queria ser o Stories. Ninguém dava a mínima pra isso, mas quando resolveram acabar com a ferramenta um monte de gente resolveu postar foto pelada no negócio, e eu vi partes íntimas de muitas pessoas em troca de nada.
Programas de TV aberta com audiência irrisória de acordo com o famigerado Ibope ganharam alguma atenção graças ao Twitter, tipo Masterchef Brasil, Roda Viva, CQC, todas as produções da antiga MTV Brasil, entre outras coisas. Tudo graças ao hábito que chamamos de “segunda tela”, que consiste em assistir TV com o celular na mão e uma cabeça ansiosa e incapaz de operar o sistema em paz.
O Big Brother Brasil, programa mais visto da América do Sul, estava caminhando para o ostracismo quando Tiago Leifert, o grande especialista em tecnologia e nerdices de Curicica, convenceu o pessoal a mudar algumas coisas. Por falar nisso, gosto muito de lembrar que o Boninho tem em sua bio uma menção ao prêmio Emmy que manda para um perfil completamente nada a ver.
Acompanhar os altos e baixos da democracia global pelo Twitter sempre foi um privilégio. O ponto de virada foi a campanha de Barack Obama para a Casa Branca em 2008. Foi nessa época que me tornei um dos mais de 500 mil cidadãos do mundo seguido por ele. Mas nunca tive coragem de mandar uma DM.
Apesar disso, as eleições brasileiras vistas sob a perspectiva maluca e nonsense da timeline do Twitter estarão sempre no meu coração. Antes de continuar, lembro a você que eu acompanho tudo pela ótica esquerda progressista pois não tenho condição física, psicológica e estética de virar uma pessoa da extrema-direita.
Foi muito especial ver Dilma ganhando em 2010 e 2014, período que a plataforma ajudou muito a impulsionar o que hoje nós chamamos de polarização política. O impeachment de 2016 e a vitória do atraso de 2018 foram terríveis. Com os olhos de 2024 sinto uma certa nostalgia dos tempos mais simples do governo tampão do vampiresco Temer, levando em conta que os anos seguintes foram a bancarrota da esperança.
A vitória de Lula em 2022 foi necessária para a nossa democracia, mas em termos de conteúdo não foi o ponto alto na história do Twitter. Sinto que nesse recorte político o auge aconteceu na cobertura da Eleição de 2014 com o melhor elenco de candidatos à presidência desde a constituição de 1988. Caso você não se lembre: Dilma Rousseff, Luciana Genro, Marina Silva, Aécio Neves (e a foto do cara triste na apuração ao lado do Luciano Huck), Eymael, Levy Fidelix, Pastor Everaldo (literalmente peidando no debate da Globo) e Eduardo Jorge com seu tweet “você está louca querida”.
A fase pandêmica de 2019 a 2022 foi terrível, não quero nem falar sobre isso. Mentira, quero falar sim. Nesse tempo aí eu me irritava com a direita, e seu desejo de sangue e morte, e com a esquerda inocente, dos “vamos sair melhores dessa” aos “fiscais de quarentena”. Lembro de escrever e não publicar vários tweets para preservar o que me restava de paciência e saúde mental.
Com o passar dos anos, já não me lembro muito bem quando isso começou, os prints de tweets invadiram todas as redes sociais. Existem perfis no Instagram que vivem basicamente de prints de tweets, tipo aqueles Memes Twitter, coletâneas infinita de tweets, mas nem todos são memes. Ou todo print de tweet automaticamente se transforma em um meme? Será que alguém já estudou a ligação entre o design de um tweet fora do Twitter e a captura do interesse do povo por esse tipo de conteúdo? Questões. A única coisa semelhante a isso são os vídeos de TikTok que estão espalhados por todo canto, inclusive no Twitter.
Nos últimos anos o Brasil foi agraciado com a presença dos escritores Escriba do Umbral e Claudette Gregótica. Seus tweets nevrálgicos, trazendo dedo na feriada e empatia, contextualizam o mundo enquanto apresentam uma iconoclastia capaz de desestabilizar toda e qualquer pessoa com a saúde mental manca (todo mundo tá assim).
Muita gente diz que a rede social em questão é o lugar mais tóxico que existe no mundo. Eu lamento se você tem apenas essa perspectiva. É possível sentir isso e muito mais. Para mim essa é a rede social mais divertida que existiu. Não tenho esperanças de encontrar algo parecido tão cedo, mas estou disponível.
Por diversos usos que fiz do meu perfil por lá, tive oportunidade de aprender muita coisa, conhecer muita gente, fui a lugares incríveis e muito peculiares por causa da minha presença no Twitter. Por causa dessa bagaça, resolvi que seria uma boa ideia trabalhar com as chamadas redes sociais e cá estou nessa aventura até hoje. Não me arrependo de nada.
Hoje em dia esse troço nem se chama mais Twitter depois que o capitalismo tardio botou a mão e a coisa foi vendida. Agora ainda tem o imbróglio da chefia com a Justiça brasileira, que deve feder em breve. Caso tudo seja deletado de uma hora para outra, deixo aqui meu obituário do Twitter versão 2024. Não vou me espantar se eu fizer outros desses em 2025 e/ou 2026. Quem sabe lembro de outros causos.
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***PS:
Boa tarde. Chegaram muitas pessoas novas desde a última edição, então deixo aqui minhas boas vindas para você e compartilho a única regra dessa newsletter, é coisa simples: em Dia Sim tem nova edição e em Dia Não nada acontece.
***LINKS PARA PREENCHER O VAZIO DA EXISTÊNCIA:
Em toda edição separo alguns links da internet (de onde mais seria?). Alguns são incríveis, outros mais ou menos, depende de você, de como você está se sentindo hoje e do que mais gosta nessa vida. Minha intenção é não deixar nenhum espaço para o vazio que assola a existência de todo e qualquer ser humano.
Vamos com 5 links. Boa sorte.
Passeio no shopping e açúcar na veia.
Um vídeo histórico no que tange ao registro de imagens de pinguins.
Brasil acima de tudo.
***POR HOJE É SÓ
Finalizo aqui a Dia Sim, Dia Não edição 150. Em breve chego no seu e-mail com a 151. Enquanto isso, leia as mais recentes:
✋ Recado final: se você encontrar algum erro, acerto ou quiser falar comigo por qualquer outro motivo, anote os endereços.
📧 E-mail odavirocha@gmail.com
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👋 Até breve.
Que texto bom!!
Sou usuária do Twitter desde 2019. No início pensei: “nossa, não sei usar isso… coisa esquisita”. Até o dia que de fato aprendi como funciona e nunca mais dei a mínima para outra rede social. É aquilo: o Twitter é um lixo, mas é meu lar.
O tanto que eu ri haha nessa News eu sempre aprendo algo novo, tipo o termo fãter. E que garfo é feminino. Se isso não é educacional, eu não sei o que é