Óculos 3D em cima do óculos em cima da máscara
Em algum momento da minha vida eu parei de ler sobre cinema. Pelo menos as críticas antes de ver os filmes, as fofocas ainda me interessam.
Em uma semana do ano passado fui ao cinema quatro vezes. Assisti um filme bom, revi Parasita, vi outro bom porém muito triste e tive o azar de ver um treco horroroso. Esse último vou te contar uma coisa pra você, era uma bomba, uma porcaria, 90 minutos que poderiam ser um textão de Facebook. Tinha um ator brasileiro que eu gosto, achei que dava pra ir sem saber nada. Não dava, mas tudo bem, não dá pra ganhar todas.
Quatro dias depois desse constrangimento o mundo parou por causa da covid-19. Eu achava que não iria dar em nada pois muita gente achava que não iria dar em nada e eu só sigo o fluxo. A gente nem tinha popularizado as máscaras. Naquela época eu queria ver outras várias coisas que estavam em cartaz, era questão de abaixar a poeira uns dias e matar essas vontades. Coitado dele.
Sabe que em algum momento da minha vida eu parei de ler sobre cinema. Pelo menos as críticas antes de ver os filmes, as fofocas ainda me interessam. Essa atitude melhorou e muito minha experiência pois eu mesmo vou lá pra ter a minha opinião. Mas também me levou pra cada buraco. É a famosa faca de dois legumes.
Isso começou tem uns anos. Numa noite de um dia de semana de 2017 fui ver um filme com quase zero infos. Dei uma espiada no trailer e achei interessante, a história parecia ser forte o suficiente pra prender minha atenção, o nome era bom, o cartaz show, o visual despojado, aquela coisa gostosa. Além de tudo, cheguei bem na hora que iria começar e esperar dá muita gastura. Ou seja, perfeito.
Exatos 100 minutos depois eu estava com as pernas bambas, chocado, sem rumo, completamente biruta da cabeça. Puta merda, que loucura.
O filme em questão conta a história de um homem negro que é sequestrado pela família branca da suposta namorada para obrigá-lo a fazer um transplante de cérebro. Em certo ponto, o cara descobre que a porra da família lazarenta já tinha feito o mesmo com vários outros negros das redondezas. É isso, fui ver Corra sem saber nada disso. Nadinha. Pensava que era um terror normal, desses que as pessoas correm.
Só depois descobri que o diretor e roteirista de Corra é Jordan Peele. E que, rola na boca pequena, vários momentos do filme foram inspirados em situações vividas pelo próprio Jordan. O homem é casado com Chelsea Peretti, mais conhecida como a Gina de Brooklyn 99. Se é verdade não sei, mas desde então vejo tudo que leva o nome deste cara. Normalmente só sei o nome do filme e pronto, nem trailer vejo. É confiar no pai. E esperar situações traumáticas.
Voltando a 2020, os meses foram passando e eu sentia uma falta desgraçada de cinema. Até estava vendo uns filmes na TV, mas não é a mesma coisa. Na verdade, a certa altura daquela fase não aguentava mais ver merda nenhuma, em tela nenhuma. E sempre martelava na minha cabeça que o último filme que eu tinha visto no cinema era uma bomba. Sim, um privilégio ter esse tempo. Será que minha humilde existência se encerraria com esse porcaria na conta???
Imagine se você morre usando a sua roupa mais feia. Já pensou morrer sem ter mais uma chance de comer sua comida favorita. Se você soubesse que vai morrer daqui uma hora não estaria aqui lendo este post, sua última leitura em vida. Felizmente, a gente não sabe de nada disso. Sai fora. Mas nesse inferno dessa pandemia, vez em quando essas coisas passavam pela minha cabeça (outras coisas mais sérias também, mas isso deixa pra lá, aqui não é lugar).
E 2020 passava e nada da pandemia acabar. Abril, maio, junho, julho, agosto, setembro. E a angústia crescendo. Em outubro, os cinemas reabriram pois teve aquela fase menos pior no Brasil e em São Paulo.
Imagine, no longínquo outubro de 2020 eu mal saía de casa. Pra quase nada. Saía pra dar umas caminhadas e ir até a fisioterapia, que eu me lembre, e olhe lá. A sensação estranha de morrer tendo visto uma bosta de filme pela última vez no cinema era real. O medo de pegar essa peste fora de casa também, mas tomei coragem e fui.
Na primeira sessão do primeiro feriado com cinema aberto, eu estava lá com minhas duas máscaras de pano. Tinha só mais uma pessoa na sala. O filme era ok dessa vez, mas já era uma volta. Que honra. Desde então, fui praticamente toda semana, menos quando voltou a fechar e em outras semanas quando não deu pra ir.
Em algumas sessões tive a oportunidade de estar totalmente sozinho, 399 lugares vazios e eu lá. No geral, antes da vacina chegar eu escolhia salas com lotação máxima de 10 pessoas e às vezes deixava de ir pra evitar qualquer coisa. Sessões perto da hora do almoço ou domingo muito de noite. Entrava e saía do shopping praticamente correndo. Que situação.
Semana passada, reparei que tem ido cada vez mais gente ao cinema. Fico feliz em saber que as salas não vão fechar por falta de público, e que (por enquanto) a pandemia tá mais controlada por aqui. É legal ver as filas se formando de novo.
Também foi na semana passada que talvez eu tenha chegado ao ápice da experiência cinéfila pandêmica distópica. Foi na sessão 3D de Os Eternos. Eu uso óculos, então estava com o óculos 3D em cima do meu óculos normal, em cima da máscara PFF2, em cima da minha vontade de rir - pois todo mundo fica com cara de bocó quando bota óculos 3D.
***MISTÉRIO DO DIA
Na última Dia Sim, Dia Não o grande mistério foi: qual é a idade de Antônio Fagundes, ex-Rei do Gado? E a resposta é 72 anos.
Agora vamos ao mistério desta edição: qual o livro mais vendido do momento? Esta até eu quero saber. A resposta deste grande mistério será revelada na próxima edição da Dia Sim, Dia Não.
***TWEETS QUE VALEM O RT
Vamos de 6 tweets separados especialmente para você dar uma olhadinha e abrir um sorrisinho. Será?
***POR HJ É ISSO AÍ
Já vamos parando por aqui. Eu fico aqui na minha casa e você fica aí na sua. Essa foi a trigésima primeira Dia Sim, Dia Não. Enquanto a trigésima segunda não dá as caras, leia as últimas edições: