A gente deveria nascer sabendo que em algum momento da vida vai ser complicado entender o que está acontecendo com as pessoas. Por exemplo, eu estou muito cismado com uma situação extremamente iconoclasta.
O Museu de Arte Moderna de Nova York, também conhecido entre os intelectuais como MoMA, colocou um iPod numa exposição. Não sei se é a primeira vez que isso acontece, mas pra mim é como se fosse.
Caso você não se lembre, iPod é mais um cacareapple, um objeto caríssimo que as pessoas usavam no começo do século para ouvir músicas e se sentirem importantes. Vou botar uma foto bem alegre dele aqui embaixo:
Tenho pra mim que museu é pra ver coisa do tempo do Onça e/ou obras de arte mais clássicas, exclusivas, daquelas que a gente não acha fácil por aí. Tipo uma pintura icônica, uma escultura afetiva, um móvel diferentão e desfuncional, uns tecidos rasgados e descolados, umas múmias que não conseguem descansar em paz pois viraram arte. Em suma, deleites.
Quando um treco como um iPod, que talvez você ou um amigo acumulador tenha em casa, vai parar no museu é para se espantar. É ou não é? Eu estou espantando. Isso é sinal de que os cacareapples estão indo longe demais. E estamos todos batendo palmas.
Pode me chamar de careta, antiquado, antigo, bolorento, mas esse tipo de coisa não me entra na cabeça. É uma leitura de mundo bem complicada de se assimilar sem uma profunda pesquisa, eu sei. Coisa que eu opto, neste momento, por não fazer, mantendo minha ignorância enquanto penso sobre isso em vez de levar o lixo pra fora.
Isso é preocupante pois o que é moda em Nova York hoje, logo vai ser hype nos grandes centros urbanos latinos. O pessoal não pode ver nada no Brooklyn que quer importar para Pinheiros, Vila Madá, Botafogo, Palermo.
Se a moda pega, a gente tá transformando todo quartinho de bagunça em exposição. O que que isso?!?!?!
Digo mais, deve ter bastante coisa nos sacos de fios e carregadores velhos de nossas casas. Depois de encontrar essas coisas, é só tirar o pó, colocar em volta de um acrílico numa sala dentro de um museu considerado chique. Precisa ser aceito pelos curadores, é claro, mas nada que um Power Point anexo não dê jeito.
Dá para fazer o Gugu na Minha Casa das “obras” “de” “arte”. Walkman. Super Nintendo original com cartucho pirata. Playstation 1 aquele quadrado cinza. Computador colorido mais pesado que uma bigorna. Bichinho virtual que cagava o dia inteiro. Agenda eletrônica, de preferência com contato de pessoas ainda vivas. Celular daquele azulzinho da Nokia.
Se você estiver passando por Nova York (ou, como eu, estiver bem longe de lá) e quiser saber mais sobre esse negócio, vou deixar aqui o link da exposição: Never Alone: Video Games and Other Interactive Design. O nome é excelente. Never Alone joga na cara certas coisas justamente para uma geração que vive tão tristinha e solitária desde a invenção dos chamados devices.
***PS:
Boa tarde a você que está chegando na Dia Sim, Dia Não. Trabalhamos com posts em todo Dia Sim na sua caixa de e-mails. Em Dia Não fico devendo.
***POR HOJE É SÓ
Termina aqui a Dia Sim, Dia Não número 86. Em breve o número 87 chega por aí, enquanto isso leia mais:
Eu também acho que tem algo muito errado com o mundo quando essas coisas acontecem. Não curto e tenho preguiça das respostas que recebo quando falo sobre isso hehehe!