Por que ninguém faz uma nova versão do Esqueceram de Mim?
Será que a sociedade não sabe mais lidar com a rejeição familiar que molda o ocidente desde os primórdios?
Nos últimos dias, o pessoal que adora uma novidade ficou numa euforia profunda com a volta do filme Matrix. Aquele que o sujeito toma uma pílula colorida e cai na maior brisa da história do cinema. Dessa vez, o rapaz tá na crise da meia idade, diz pro terapeuta que sente que tá ficando louco e do nada volta lá pra Matrix. Só que ele não lembra de nada que viveu antes e aí só uma enxurrada de efeitos especiais pra curar essa ressaca louca.
Entendo, agradeço e me divirto com a nostalgia. Espero que venha mais por aí. E nessa vale tudo. Robocop, Exterminador do Futuro, Kill Bill, Friends, Verdades Secretas, Escolinha do Professor Raimundo, Serginho Groisman, Caetano Veloso, tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Um filme em específico me faz falta: Esqueceram de Mim. Mas com o Macaulay Culkin. É importante frisar o ator pois já tiveram a pachorra de fazer Esqueceram de Mim 3, 4 e 5 com outros moleques. Quando soube fiquei tão desgostoso da vida quanto você está agora.
Tudo isso me leva a duas questões primordiais para o nosso tempo: por que ninguém faz uma nova versão do Esqueceram de Mim? Será que a sociedade não sabe mais lidar com a rejeição familiar que molda o ocidente desde os primórdios?
Agora imagine que demais um filme em que o Kevin é casado, perde o emprego nessa crise desgraçada, separa e volta para casa dos pais em busca de sopa grátis. Ele é democrata, a família é trumpista e aí a chuva de quebra pau rola solta com essa galera. O sofrimento vai crescendo, mas Kevin não quer gastar dinheiro alugando um apartamento pra morar sozinho. Chega o Natal e os pais viajam para a casa do irmão mais velho na Flórida sem avisar nosso protagonista. É a primeira vez que o casal sai de fininho para abandonar o filho mais novo. O rapaz percebe que foi rejeitado até pelos pais e vai onde as pessoas desesperadas se encontram na véspera de Natal: a igreja. Na volta, descobre que os bandidos molhados estão tentando roubar a casa dos pais de novo. Finalmente nosso personagem entende que o sentido de toda da vida é defender o patrimônio familiar. Todos terminam felizes e com sorte ainda conseguem engatilhar mais um pouco dessa história em uma série de algum streaming.
Também tem a versão que o Kevin se transformou num solteirão preguiçoso que não larga o bem-bom do conforto do lar da família de jeito nenhum. O cara já tá com quase 40 anos, é um encostado sem trabalho, daqueles que vive arrumando desculpa pra não fazer nada. O Natal de 2019 vai chegando e a família resolve dar um basta e expulsá-lo de casa. Claro que o desocupado não aceita e os pais vão viajar sem ele para deixá-lo sozinho em busca em um minuto de paz. Na véspera de Natal, os bandidos molhados tentam roubar a casa deles, Kevin não mexe uma palha tamanho ranço que acabou garrando da própria família. Ao final eles tentam fazer as pazes por Zoom e entendem que é melhor cada um ficar no seu canto. Essa versão ainda abre brecha para o Esqueceram de Mim Covid, onde o Kevin tem de passar a pandemia inteira sozinho e sem nenhuma estrutura. Mas eu ouvi dizer que o público não tá muito interessado em histórias envolvendo a pandemia, pra ser sincero a voz do povo é a voz correta neste caso.
Podemos pensar em outro lado dessa moeda. Aqui Kevin é quem esquece a família de origem. Casado, com filhos, rico, nosso herói formou sua própria família desestruturada. Na véspera do Natal, ele resolve dar uma passadinha num bar com os amigos do trabalho, perde o controle do tempo e toma um porre, tem uma ressaca desgraçada, perde o voo para a casa dos pais e ainda arruma uma briga com o outro lado da família. Enquanto isso, na casa dos McCallister a mesa está cheia, a família está reunida (justo naquele ano não faltou ninguém), o pai propõe um brinde e em um texto emocionado lamenta que seu filho caçula Kevin infelizmente não dá mais valor no que realmente importa. De repente, o homem tem um pequeno AVC que mela todo o jantar. Sem clima, a galera é obrigada a correr com o idoso pro hospital, enquanto a criançada fica reclamando que está com fome e não ganhou presente. Ao saber da desgraça é Kevin quem larga tudo pra cruzar os EUA e voltar para a casa. Fica aquela tensão, será que vai dar tempo de se despedir do pai no leito de morte? Chegando lá, os médicos revelam que foi só um susto e o patriarca da família não vai ter nenhuma sequela. Porém, moral da história dada, é moral da história cumprida, e a família se reúne novamente.
Quem puder encaminhar essa edição da Dia Sim, Dia Não para Hollywood, agradeço.
Quem quiser deixar outra versão dessa história nos comentários, faça o favor de deixar sua versão da história nos comentários.
***MISTÉRIO DO DIA
Na última Dia Sim, Dia Não o grande mistério foi: o que significa a sigla TED? E a resposta é Tecnologia, Entretenimento e Design. Quem diria, não tem nada a ver com P de Palestra.
O mistério de hoje é: quantos filmes fez Keanu Reeves? Pensa aí e a resposta eu te conto na próxima Dia Sim, Dia Não.
***TWEETS DA SMN
Mais uma smn se foi e está na hora de olhar pra trás e descobrir quais os tweets valem a pena serem embedados nesta edição. Trabalhamos com 7 histórias que dariam um bom filme. Quer dizer, pensando melhor, dariam um filme. Divirta-se.
***POR HJ BASTA
Por hoje tá bom demais. Esta foi a vigésima sétima edição da Dia Sim, Dia Não. Se você ainda está com sede de conhecimento, volte para as edições anteriores e aproveite: