Tomei conhecimento da existência do filme Mallando, o errado que deu certo. A história é assim: Sérgio Mallandro está numa pior, cheio de dívidas, sem relevância, mas luta contra tudo e todos para fugir do ostracismo. De repente ele morre, vai parar no céu e encontra Xuxa, que oferece ao nosso herói a chance de voltar à vida. Quando ressuscita, Mallandro percebe que não consegue mais falar seus famosos bordões “Glu glu”, “Yeah Yeah” e “Rááááá”. A encrenca tá feita.
No papel de Sérgio Mallandro temos nada mais, nada menos que Sérgio Mallandro depois da harmonização facial. Me lembrou muito Nicolas Cage no papel de Nicolas Cage em O Peso do Talento, Matthew Broderick como Matthew Broderick em Only Murders in the Building e Michael Jordan como Michael Jordan em Space Jam.
Ainda não dá para confirmar, mas Mallandro, o errado que deu certo tem tudo para entrar no Panteão do cinema nacional ao lado de obras como Bacurau, Central do Brasil, Cidade de Deus e Super Xuxa Contra o Baixo Astral.
Graças ao YouTube acabei assistindo a alguns vídeos relacionados a esse universo como “Sérgio Malandro cantando vem Fazer Glu Glu” no Sabadão Sertanejo, “Sérgio Malandro diverte Faustão com histórias engraçadas da vida real” no Programa do Faustão na Band e “Primeiro Oradukapeta com Sérgio Mallandro”.
O mais revelador foi o vídeo de 8 minutos e 35 segundos “Relembre o clássico "Porta dos Desesperados" do Oradukapeta | tbtSBT”. Começa com Mallandro vestido com uma roupa dourada e chapéu meio bobo da corte, ele está dançando a música Venus do conjunto musical Bananarama. Depois surge um boneco com o rosto vermelho e chifres (um pouco depois o personagem conversa com o apresentador e é chamado de Capetinha). A cena dura eternos 40 segundos, então finalmente começa o quadro da Porta dos Desesperados.
Mallandro escolhe um menino da plateia. Ele só pode participar depois de mostrar o boletim da escola com boas notas, dar algumas cambalhotas, imitar um macaco e gritar como se estivesse muito desesperado. Obviamente, a criança só queria ganhar os brindes.
Me chamou muito atenção o tamanho das famigeradas 3 portas do cenário. Minha lembrança era outra, vendo hoje fica evidente que se tratavam de três guarda-roupas de solteiro Bartira modelo duas portas vendido na Casas Bahia, porém com uma pintura colorida, sem as divisórias e gavetas.
A lisergia era tão grande no fim dos anos 1980 que no minuto 4 do vídeo, enquanto a criança estava em dúvida sobre qual porta escolheria, o apresentador começou a conversar com o Doutor Pom Pom. UM COELHO!!! Um animal de verdade. E foi um diálogo revelador, pois a criança estava na porta número 3 e o bicho sugeriu a 2.
Para segurar a audiência, outra criança da plateia foi convocada a abrir outra porta. Lá veio a coitada da Denise, que escolheu a número 1 para ser perseguida por uma pessoa vestida de algo que parecia ser um gorila. Uma situação complicadíssima.
Por fim, quando já se passavam mais de 7 minutos em tamanha enrolação, o menino resolve abrir a porta 3 e aqui eu tenho de escrever uma notícia que ninguém queria dar: ele não ganhou merda nenhuma!!! Ainda foi perseguido por um sujeito magrelo vestido com uma roupa verde, capa laranja, cueca roxa por cima da calça e máscara meio cobra, meio alienígena.
Como tudo que é ruim pode piorar, Sérgio Mallandro ainda se dá ao trabalho de abrir a porta 2 e mostrar o que o garoto perdeu: uma grande quantidade de jogos de tabuleiro, camisetas, ursinhos pequenos e ursos gigantes, entre outras coisinhas. Ou seja, o maior desejo de todo ser humano vivo: um amontoado de cacarecos.
Se fosse em 2024 o mesmo quadro funcionaria muito bem oferecendo ring light com tripé, pau de selfie, almofadas de emojis, microfone de podcast, cadeira gamer, livros de autoajuda com a palavra FODA na capa, caixas de chá verde e tubos de Ozempic. Em vez de colocar crianças para abrir a porta, bastava escolher humanos desesperados para se tornarem influenciadores digitais.
Não sei você, mas eu lembro de assistir esse negócio todas as manhãs. Estivesse conversando com a Wikipedia e ela me informou que a Porta dos Desesperados foi ao ar entre junho de 1987 e junho 1990 no SBT. Como pode minha cabeça ter tantas lembranças desse programa se eu tinha apenas 3 anos? É possível explicar como eu me lembro disso mas não sei qual a senha da Netflix? A memória humana é muito fascinante.
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***PS:
Estamos em semana de feriado nacional. Um dos poucos feriados desse difícil 2024. Por esse e outros motivos, deixo aqui meu conhecido post com dicas práticas do que fazer um lindo dia de feriado.
E bom feriado para você e para os seus.
***LINKS PARA PREENCHER O VAZIO DA EXISTÊNCIA:
Toda edição eu presto o serviço de indicar links para te ajudar a preencher esse vazio que toca dentro do seu peito. Essa semana temos 9 links:
Pinguino Patrisio de crochê. Contexto neste link, caso você não conheça Patrisio.
***POR HOJE É SÓ
Ponto final na Dia Sim, Dia Não edição 148. Vem aí a 149, mas ainda sem data definida. Enquanto o futuro não chega, olhe para o passado, leia mais, divirta-se:
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a tv, nos anos 80 e 90, era um atentado aos direitos humanos e a gente não percebia. hahaha
Eu tenho vagas lembranças da Porta dos Desesperados, e também sou de 87. Acho que minha cabeça foi selecionando por simplesmente não dar conta! Mas um dia eu entrevistei o Sérgio Mallandro e entre um glu glu e um yeah yeah, voltou tudo (igual aquelas cenas de gente se recuperando de amnésia) e eu comecei a rir sozinha. Adoro essa newsletter porque do nada você tá falando do Mallandro e de repente cai num podcast do New York Times. Isso sim é curadoria.