Só a comédia mesmo pra curar alguma coisa
Digo mais, sem a comédia nessa pandemia estava todo mundo mais fudido ainda.
Desde os primórdios da pandemia atual eu fiz de um tudo dentro de um apartamento. Se soubesse que essa situação duraria tanto nessa merda, teria tirado fotos a valer pra fazer aqueles vídeos mostrando uma timelapse maluca. Teria filmado para fazer um documentário poético com trilha sonora adolescente. Agora já foi. Mas ao escrever esse parágrafo passa um curta-metragem na cabeça. Só curta.
O meu vídeo felizmente não vai sair, mas essa semana eu vi um longa-metragem pandêmico feito num cômodo. O comediante Bo Burnham, munido de equipamentos, um contrato com a Netflix e muito talento fez um documentário, musical, show de comédia, sobre o confinamento pandêmico dele. Chama Inside. Parece que tá sendo aclamado pela crítica e tá concorrendo ao Emmy, que não é um Oscar, mas o pessoal é sindicalista e adora qualquer tipo de prêmio.
A obra é engraçada, mas os sentimentos que melhor representam são angústia e desespero. Tive essa impressão nos primeiros segundos. Pudera, se fosse diferente talvez estivesse algo muito errado e a Netflix não teria deixado nada disso ir pro ar.
Por causa do chamado isolamento social, tudo foi concebido, escrito, dirigido e editado pelo próprio Bo Burnham. Dá pra ver que ele foi gravando e editando ao mesmo tempo. Conforme o filme passa, o artista vai ficando mais e mais ansioso. Exatamente como eu, você, nós, vós, eles, nessa situ.
Durante 87 minutos ele canta 21 músicas sobre a pandemia, conversa com a câmera, faz seus números de comédia como se estivesse em um palco, mesmo sozinho em casa. Em alguns momentos até rolam palmas virtuais e imaginárias, como no antigo programa A Turma do Didi.
As músicas versam sobre temas como fazer uma chamada de vídeo com a mãe, a timeline do Instagram de uma mulher branca, o Jeff Bezos, sexo virtual, fazer aniversário de 30 anos durante a pandemia, entre outras angústias.
A minha música favorita é Welcome to the internet.
Welcome to the internet
Put your cares aside
Here's a tip for straining pasta
Here's a nine-year-old who died
We got movies, and doctors, and fantasy sports
And a bunch of colored pencil drawings
of all the different characters in harry potter
Fucking each other! welcome to the internet!
Como que pode isso??? A internet é isso aí, um shuffle louco, não tem cérebro que aguente.
Enquanto escrevo esse texto, minha internet mostra briga em reality show, primeira-dama opinando, consumidor pedindo ajuda para companhia aérea, convite à revolução, música velha, jogo de futebol, receita de macarronada fácil, preconceito linguístico, Bill Murray, um teste qualquer, QR code, gente desaparecida. Em dois scrolls. Quem aguenta? A gente aguenta!
Voltando ao show de comédia amado pelas críticas, um dos pontos altos é a canção que faz uma necessária ode à comédia. Nosso herói canta:
Healing the world with comedy
The indescribable power of your comedy
The world needs direction
From a white guy like me?
Bingo
Who is healing the world with comedy?
That's it!
De fato, só a comédia para curar alguma coisa. Digo mais, sem a comédia nessa pandemia estava todo mundo mais fudido ainda.
O peso da existência já é bastante pesado, com medo de morrer a qualquer momento, acompanhando notícias terríveis, vivendo luto atrás de luto e sem perspectiva alguma de futuro, fica ainda mais pesado. Ninguém estava preparado. Ninguém!!! Tanto que todo mundo surtou, dos que ficaram em casa aos que negaram as regras, é tudo surto.
Eu não sei você, mas eu ri bastante esse tempo todo graças a todos os seres humanos que riem de absolutamente tudo. Principalmente de si mesmos. Nem sei como consegui, como conseguimos (eu sei que você também riu bastante). Até pensei em fazer uma lista de algumas coisas que me fizeram rir, mas seria embed pra caramba.
É impossível não lembrar do Paulo Gustavo falando no especial de fim de ano da Globo que rir é um ato de resistência.
***TWEETS DA SMN
Como hoje é sexta, o fds está pra chegar. Ainda é tempo de ver quais os melhores tweets da smn. Hoje eu só trouxe cinco tweets pois é nas pequenas listas que estão os grandes frascos.
***MISTÉRIO DO DIA
Na edição passada da Dia Sim, Dia Não o grande mistério foi: se a gente somar a idade de todos os roqueiros integrantes dos Rolling Stones mais o Paul McCartney e o Ringo Starr, teremos quantos anos? A resposta é: 468 anos. Que loucura, somar idades!!!
Agora vamos ao mistério de hoje: quantos dias faltam para o fim de 2022? A resposta deste enigma eu conto na próxima edição da Dia Sim, Dia Não.
***MÚSICA AO VIVO SÓ QUE GRAVADA
Chegou a hora de cantar músicas do cancioneiro brasileiro. Funciona assim, eu vou separar trechos de uma música e você canta aí na sua casa.
Hoje vamos de Pescador de Ilusões, aqui é pra cantar na versão da ex-banda O Rappa.
“Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões
Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões
Se eu ousar catar
Na superfície de qualquer manhã
As palavras de um livro sem final
Sem final, sem final, sem final, final
Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões”
***O QUE SOBROU DO CÉU DO DIA
Hoje na seção o que sobrou do céu, vamos ver como estava o céu enquanto eu escrevia essa newsletter:
***POR HJ BASTA
Por hoje, como diz Seu Jorge, é isso aí. Se você tá com tempo, leia mais edições da Dia Sim, Dia Não, ó os links:
100 dicas de descuido para ter uma vida melhor
Só pra quem tem síndrome do impostor
Quanto menos roupa na TV, melhor pra todo mundo