Todas as vivências. Todas.
Cada dia que passa fica mais pesada a pressão da opinião pública sobre assuntos bobos.
A internet é um lugar maravilhoso mas também pode ser um pico horrível. Tem hora que fica a minha honesta torcida para que quebre tudo e a gente volte pros tempos das filas de banco. Mas a vontade passa rápido e sigo com o desejo de vibes melhores.
Hoje quero falar do Twitter. Uma das vantagens dessa rede social é o acesso livre a uma quantidade infinita de opiniões e histórias bestas de muitos assuntos. Gosto de deixar o cotidiano mais cotidiano possível. Exemplos:
Nas últimas semanas, porém, o Twitter se mostrou uma mistura de antessala do inferno com uma praça de centro de cidade lotada de biruta berrando sandices. A nova moda é que antes de publicar qualquer coisa é preciso levar em consideração todas as peculiaridades das outras pessoas. Todas, todinhas, sem exceção.
Vamos dizer que eu publique: “caramba como é bom beber água. Huuummmm que delicia”. Antes de publicar, eu deveria ter tido mais cuidado.
Nessa sentença talvez eu tenha ofendido as pessoas que não gostam desta bebida. Como fica quem prefere suco de laranja e pode achar uma ofensa minha exaltação à água? Talvez eu não tenha pensado em todas as pessoas que não têm água pra beber - embora com um tweet eu não tenha como resolver essa injustiça. Nada disso faz sentido, mas é o que acontece com alguns tweets populares.
Como a moça que postou uma foto de potes de sorvete e sugeriram taxar as grandes fortunas dos milionários, neste caso teríamos uma rica abusando do direito de postar uma foto. Ou o cara que contou que ofereceu brigadeiro a uma criança e foi considerado inimigo público da alimentação saudável e da infância, uma ameaça aos menores de idade.
Cada dia que passa fica mais pesada a pressão da opinião pública sobre assuntos bobos. E é impossível, IMPOSSÍVEL, levar em consideração absolutamente todas as vivências. Não importa o assunto.
Em que momento chegamos nesse clima tóxico na rede mundial de computadores? Lembrei de um texto publicado em julho de 2021 no New York Times e traduzido pela Folha com o título “Por que as pessoas são tão horríveis e mesquinhas nas brigas das redes sociais?”.
Roxane Gay, escritora, professora, ativista, conta como seu universo se expandiu com ajuda do Twitter, mas que ela não gosta mais da rede social. A certa altura ela descreve exatamente o que tem acontecido com frequência no lado brasileiro da rede:
Se um erro foi cometido, se torna prova imediata de que quem o cometeu não pode ser redimido. Ou, quando uma pessoa termina considerada como vagamente responsável por um erro, um coral rasga as vestes em protesto, lastimando a desumanidade da cultura do cancelamento.
Todos os danos são tratados como traumas. Vulnerabilidade e diferença são transformadas em armas. As pessoas presumem as piores intenções. Argumentos apresentados com má-fé abundam e são alardeados com indignação ruidosa.
E estou falando das discussões online mais razoáveis.
O Twitter e suas bobajadas continuam sendo meu lugar preferido na internet. Mas me faço duas perguntas importantes: será que daqui pra frente só quem compra sorvetinho bem simples vai ter paz? Apenas intolerantes à lactose terão livre acesso às opiniões sobre brigadeiro???
Muito cuidado e salve-se quem puder.
***A INTERNET HEIN
Como acabei de afirmar, a internet é lugar de coisas, dicas, sorvetes, e eu que não fico de fora dessa. Vamos à seção desta Dia Sim, Dia Não com os melhores links de toda a internet.
1 - E a rainha Elizabeth que morreu, mas passa bem?
2 - Estou completamente chocado com a galera que pagou para ser assaltada.
3 - A Luciana Andrade publica a newsletter .flows magazine e semana passada contou como foi a repercussão da expressão “em situação de barril”, que ela escreveu no Twitter meio que do nada numa reply para a Miá Mello.
4 - Recomendo esta excelente sessão de fotos.
5 - Uma thread sobre a série The 100 e um queer baiting horrível
6 - Esse vídeo abriu minha cabeça:
***POR HOJE É SÓ
Fico por aqui com a Dia Sim, Dia Não de hoje, um Dia Sim. Enquanto não vamos de mais edições, fique com as anteriores:
Pelo prazer de desistir
No Ritmo do Coração e a imaginação coletiva
25 opiniões sobre o Oscar 2022
Instituições de caridade, Mega-Sena e os desafios da vida
É como dizem: falei, tô leve
Ver os outros criando é um porre. É dose pra elefante
Carisma parece até um negócio genético. Tem ou não tem.
O fim da pandemia vou ver e te falo
Pedro Almodóvar enquanto um velho da tosse
Qual é a palavra? Eu também quero saber