Vou mandar áudio porque é mais fácil pra mim
A etiqueta de como se comunicar pelas chamadas redes sociais.
“Amiga, vou mandar um áudio porque é mais fácil pra mim. Se vai ser melhor pra você eu não sei, mas você ouve aí quando puder. Eu vou ser egoísta e mandar áudio pois não quero digitar tudo que preciso explicar. Aí você ouve se quiser, senão azar o meu. Caso não esteja afim não faça nada, você é adulta e sabe tomar as rédeas da própria vida." Foi assim que eu comecei um áudio pra explicar um troço para uma colega de trabalho. Veja só que eu demorei mais detalhando essa regraiada do que dizendo o que eu precisava. Uma enorme perda de tempo.
Não contente, acabei de gastar mais 546 caracteres descrevendo essa história sem graça para você. E você leu. Obrigado por acompanhar meu TEDs Talks.
Quando foi que a gente começou a usar frases do tipo: vou mandar áudio pois é melhor? Primeiro melhor só se for pra você. Segundo, fala logo, você já está mandando, diga, hable, speak, parle, porra, eu já tô ouvindo.
A sociedade enquanto sociedade criou esse hábito de avisar coisas desavisadas. É a etiqueta de como se comunicar pelas chamadas redes sociais. Sinceramente, não precisava dessa burocracia toda.
Esta nem é a única etiqueta digital específica da nossa vida, tem tanta coisa peculiar. Vou listar as que mais me irritam.
Tem a satisfação por ficar offline: “é que eu tava fora, só to vendo sua mensagem agora”. Não precisa me dizer, liberte-se, seja feliz, livre, gaste seu tempo como quiser, não se justifique, apenas continue a conversa.
Em grupo de zap sempre tem aquele querido que manda: “gente, cheguei agora, não vi o grupo, o que rolou?”. Não pergunte, jogue a conversa no chatGPT e peça pra ele resumir em tópicos o que você perdeu. Se você não está fazendo a pergunta, deixo uma sugestão de resposta para esse tipo de frase: “Ah é? Por acaso você teve uma parada cardíaca? Foi abduzido para outro planeta? Dormiu a tarde toda? Quer que eu anote na minha agenda que no dia 14 de setembro de 2023 o Aristides não viu o grupo O Mundo é nosso !! (só os melhores, sem o chefe)?”.
E a pessoa esquecida que vem dizer algo dias depois??? “Nossa nem vi suas mensagens sexta retrasada, me perdi completamente". Ok, agora não precisa mais me emprestar 1000 reais que eu pedi com urgência, arrumei um agiota que não mata e peguei a grana com ele.
E quem tem rede social mas não usa??? “Eu não vejo DM no Instagram, melhor falar por e-mail”. “Eu não abro LinkedIn, me manda no Zap”. Então por que tem perfil nessas caceta??? Não seria melhor sair fora?
E o que dizer de quem faz isso no ambiente de trabalho? A pessoa que sente ter um pequeno poder e se dá ao direito de subverter o sistema atrapalhando os colegas. “Eu não vejo e-mails, pode me explicar por aqui?”. Posso, claro, eu preciso desse emprego.
Antes de ir embora, eu preciso destacar o ápice da falta de educação na etiqueta social das redes sociais. Acontece quando você mostra um meme para uma pessoa, não importa em qual chat ou até se acontece ao vivo, e a querida responde: “Sim, esse meme eu já vi”. Isso aí é pra acabar. A resposta normal para uma situação assim é: “ah tá”. A ideal seria assim, vou até destacar grandão no post:
“Ah é? Já viu e vai agir com essa postura? Vai investir nessa arrogância? Não vai deixar eu contar a história desse meme com o meu ponto de vista? Coisa que eu estou fazendo de bom coração para te alegrar, você pessoa triste, que tá no bico do corvo, perdeu a oportunidade de me ouvir. Tudo bem, da próxima vez quero ver você puxar assunto com um meme que eu ainda não vi. Te vira, arruma o que falar, não conte comigo pra mais nada”.
Porém, não diga nada disso, a gente nunca sabe quando a pessoa tá armada.
Tempos difíceis.
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***PS:
Lembrei de todas essas situações depois de ler o post .não é pra ler agora da
na sobre o tipo de gente que manda áudio ou texto pra outrem avisando “estou mandando aqui pra não esquecer, mas não é pra ler agora”. Sem palavras. Melhor, muitas e ótimas palavras lá no post, recomendo.***DRAUZIO VARELLA DO DIA:
E vamos com a seção dedicada ao meu influenciador favorito.
Essa semana Doutor Drauzio Varella usou a coluna dele na Folha de São Paulo para desabafar sobre um horror: propagandas falsas com o nome do nosso médico nas redes sociais para vender remédios de diversas doenças. A equipe dele passa um bom tempo denunciando os terríveis anúncios para as plataformas, que obviamente não fazem NADA. Bicho, isso deve ser um inferno sem tamanho. Aqui o link.
***LINKS PARA PREENCHER O VAZIO DA EXISTÊNCIA:
E agora é hora de preencher o vazio que habita o seu amago com links. É um serviço que eu presto nesta newsletter. Hoje trouxe nada mais, nada menos que 5 links.
Você sabia que no Reino Unido o pessoal tem costume de usar toalhas por três meses seguidos antes de lavar? Isso explica muitas coisas, só não direi quais.
O New York Times Cooking fez uma lista com 100 ideias de receitas fáceis para fazer no jantar. Com as devidas adaptações para a realidade dos supermercados brasileiros, dá pra tirar várias coisas boas daí.
Por falar em comida, recomendo dar uma passeada neste link sobre glutamato monossódico, sério, gastei um bom tempo aí.
Semana passada o podcast Rádio Novelo Apresenta foi sobre o Dia da Boa Notícia do Portal IG. Sério, uma das coisas mais idiotas já feitas pelo jornalismo brasileiro por culpa de publicitários no comando.
Uma entrevista que poderia estar na falecida sessão Páginas Amarelas da antiquíssima revista Veja.
***POR HOJE É SÓ
Chegamos ao final da Dia Sim, Dia Não 127. Logo, logo, a edição 128 chega aí no seu e-mail. Mas não chore agora, leia mais:
Ah e pensei a mesma coisa ouvindo o Rádio Novelo Apresenta: se não fosse publicitário, todo esse fiasco poderia ter sido evitado rs
Uma vez uma pessoa me disse: "não vejo muita DM, manda por email?", aí mandei por email. Ai ela respondeu o email: "me perdi aqui, segue o zap". Francamente!!