Estou em um multiverso chato??? Pelo menos não sou uma pedra
Não vou entrar em detalhes para não atrapalhar a sua experiência com os seus traumas.
Fui ao cinema ver Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo duas vezes em duas semanas. Detalhe: eu paguei por isso. Na primeira, segui meus princípios e fui sem ter a menor ideia do que se tratava esta obra. Eu costumo ver o trailer ou no máximo ler a sinopse do site do ingresso, mas dessa vez nem isso. Vi algumas pessoas elogiando no Twitter e no Instagram e pra mim bastou.
Jamais imaginei que se tratava de uma história sobre multiversos e amor de mãe. Nem passou pela minha cabeça. Com esse nome, e com o pôster abaixo, até dá pra desconfiar, mas além disso é um filme que pode ser muita coisa. Vamos combinar que sim, estamos falando de um filme muita coisa. São muitos assuntos em 139 minutos.
Até agora não falei do que se trata o filme. Bem, caso você não saiba, é uma história de uma mulher, dona de uma lavanderia, que precisa regularizar sua situação com a receita federal. Mas fica em paz, não faz essa cara, também tem comédia. Aliás, a humanidade tá numa bad tão grande que sem comédia não há.
Na segunda vez fui ver de novo pois foi grande a vontade de entrar outra vez nessa aventura. Só isso mesmo. Também deu pra me envolver mais nessa loucura e perceber mais detalhes importantes desse mundinho multiverso.
Longe de mim dar algum spoiler, mas o que é aquela cena da luta com a pochete??? Imagine só que sonho usar uma simples pochete pra jantar uma pessoa escrota na porrada? E nem precisa sujar as mãos, basta dominar a arte da pochetada bem dada e já era (antes de seguir vamos lembrar que sem violência, estamos falando de ficção).
Para melhorar, tal a cena acontece em um escritório. É de conhecimento de todos que a cada 100 escritórios, 100 são um porre. É uma ideia genial meter uma luta com pegada épica num lugar tão tedioso. Ainda sobre esta cena, os policiais presentes apresentam expressões tão incrédulas quanto a das pessoas na sala do cinema.
Daria para comentar várias outras cenas foda, mas são muitas. Além delas, a parte das relações familiares também foi algo que bateu demais, claro, afinal sou um ser humano. Porém, não vou esmiuçar nada sobre isso para não compartilhar os meus traumas e atrapalhar a sua experiência com os seus traumas.
Esse é o tipo de filme que faz pensar como cinema é um negócio espetacular. É muito bom quando você vê um filme e entende pra que caralhos o cinema foi inventado. É o caso desse.
A coisa que mais me deixou bolado sobre todo o filme não envolve a obra ou o enredo, mas envolve eu mesmo. Fiquei pensando se essa ficção fosse realidade, em qual multiverso será que eu estou? Por exemplo, tudo indica que Anitta, Lula, Márcia Sensitiva, Drauzio Varella, Maisa, Mano Brown, Gilberto Gil estão vivendo um multiverso interessantíssimo, muito mais pro divertido que pro tedioso.
Será que eu estou no mais legal? De bate e pronto creio que deve ter outro mais interessante que esse. Mas será que estou em um multiverso chato??? Pelo menos não sou uma pedra. Julgando apenas com o ponto de vista que tenho em mãos e olhos, fica impossível comparar. Até porque, se a gente tivesse tempo e parasse para analisar todos os multiversos de todos os personagens, veríamos que muitos têm seus dias bons e outros bem chatinhos. Só de não viver com um racacoonie e de estar com as contas pagas já é um grande ganho.
Antes que eu me esqueça, atenção pra dica: este filme é o mais puro suco da semiótica com duplo ou triplo sentido. A parte das rolas, das mãos em formato de salsicha, as bucetas, os objetos fálicos e os cus espalhados por todo lugar... Fora a burocracia no trabalho e na família. O sentido da vida. Os relacionamentos e suas escolhas. A transformação das pessoas mais próximas em heróis e inimigos. Se você é acadêmico de qualquer universidade, de qualquer curso, tem uma oportunidade e tanto para fazer um baita TCC ou um mestrado sobre o filme. Há infinitas possibilidades de relacionar com várias áreas do conhecimento, vários pensadores, etc. É o famoso quem quer dá um jeito.
***PS
Esqueci de avisar que quando falo de um filme aqui, sempre boto os spoilers. Cada pessoa vê um filme de um jeito, tanto faz saber alguns detalhes. Mas evito pra mim, não me conte.
***POR HOJE É SÓ
Esta foi a Dia Sim, Dia Não 57. Em breve chega a 58 na sua caixinha de e-mails. Enquanto isso, não fique triste, busque mais conhecimento e leia mais.
Sobre a cena da luta com a pochete, concordo plenamente! E em relação ao cenário de escritório pensei nas inúmeras vezes que quis dar uns sopapos em funcionários de órgãos públicos (não exclusivamente da Receita, tem um bando de repartições pra dificultar a nossa vida por aí). Gente, eu sei que não pode, que dá prisão, etc, etc, mas quem nunca, né?