Quem me dera ter os problemas da Olivia Rodrigo
Por que uma jovem, com cara de quem come do bom e do melhor, escolhe reclamar tanto de um chifre?
Chegamos ao segundo semestre de 2021 e estou com a impressão de que o Réveillon foi ontem. Tudo indica que o Natal é amanhã. Talvez por isso eu já tenha encontrado com um delicioso chocotone na padaria aqui perto.
Fato é que o ano de 2021, por todas suas intempéries, nos deu pouquíssimas novidades. Também pudera, em tempos tão difíceis a gente costuma recorrer aos grandes pilares da cultura mundial, como a estrela pop Ana Maria Braga.
Vez em quando um milagre acontece e ao que tudo indica a cantora Olivia Rodrigo é uma agulha de novidade nesse palheiro das mesmas coisas de sempre. Caso você não saiba do que eu estou falando, se trata de uma jovem que fez parte da série High School Musical da Disney. Ela namorou o rapaz que era seu par romântico, tomou um pé na bunda e o cara ainda pegou outra do elenco.
Essa corneada virou um disco de rock. Rock!!! Em pleno 2021!!! Jovens ouvindo rock!!!!!!! Uma coisa tão cringe. Esses dias aprendi que na verdade Olivia canta pop punk. É uma música revoltada como de uma banda punk e ao mesmo tempo delicada que nem o pop. Ou algo assim.
É como se Olivia Olivio fosse uma Avril Lavigne, um Blink 182, um Green Day, um Paramore de sua geração. Me arrisco a dizer que ela é quase um Kurt Cobain do TikTok. Se você não sabe o que é um Kurt Cobain, é sinal de que não precisa acordar de madrugada para fazer xixi quando toma muita sopa no jantar. Meus parabéns.
Esse imbróglio todo me fez largar todos os meus afazeres de lado para ouvir tudo isso. Joguei o nome dela na busca do Spotify e descobri muitas coisas interessantes.
Primeiro que o álbum que alçou a artista à fama se chama Sour. Ou seja, é um prato cheio para toda pessoa AZEDA.
Aí você bate o olho na capa do disco e lá está ela com essa face de poucos amigos. Esse face de quem não tá a fim de sair de casa para NADA. Em tempos de pandemia é melhor. Porém, por que uma jovem, com cara de quem come do bom e do melhor, escolhe reclamar tanto de um chifre?
Antes de começar a ouvi-la cantar, vale dar uma espiada no nome das músicas. São 11 que somadas chegam a 34 minutos: “brutal”, “traitor”, “drivers license”, “1 step forward, 3 steps back”, “deja vu”, “good 4 u”, “enough for you”, “happier”, “jealousy, jealousy”, “favorite crime”, “hope ur ok”.
Todas escritas em letras minúsculas pois não tem CAPS LOCK nos teclados dos jovens. Todos os nomes no melhor estilo não me quer, tem quem queira. Agressividade.
As primeiras frases da música brutal, a primeira do disco, já dão o tom de onde o jovem foi amarrar seu burrico.
I'm so insecure I think
That I'll die before I drink
And I'm so caught up in the news
Of who likes me, and who hates you
Como pode uma pessoa com tanto sucesso sair por aí falando que é insegura? E ainda achar que vai morrer de uma hora pra outra? Que horror!!! Mais positividade, garota!!!
Em good 4 you ela diz que o namorado encontrou uma nova namorada rapidinho graças ao terapeuta que ela indicou. Isso é um jeito bem diferente de humilhar o falecido.
Em deja vu a cantora mostra toda sua poesia, lembra até Djavan.
Car rides to Malibu
Strawberry ice cream, one spoon for two
And trading jackets
Com o passar dos versos, ela cita outros momentos fofos de uma vida nostálgica - que eu aposto que foi em 2018. Tudo parece até ir bem, mas logo descobrimos que é só mais uma música de corno. Toda uma nostalgia sobre o relacionamento acabado.
O maior sucesso de Rodriga Rodrigo é drivers license. São 460 milhões de plays no Spotify. Pois se tem um assunto que angustia jovens é a carteira de motorista.
Na canção, ela começa contando pro ex que finalmente tirou a carteira de motorista, ao fim da primeira estrofe já está toda angustiada nos cantos, chorando nos subúrbios. Não precisa analisar todas as outras músicas pra imaginar que no geral essa chifrada só resultou em encrenca e lágrimas por aqui. Porém, com algumas guitarras.
Quem me dera ter os problemas supérfluos da Olivia Rodrigo em pleno 2021.
Entendo perfeitamente a fama, o sucesso e a mobilização de milhões de jovens. São 2,6 bilhões de plays no Spotify para esse disco com canções de corno. O chifre é uma das coisas que mais mobiliza os seres humanos.
Como já falei em outra edição dessa newsletter, o jovem em vez de sair por aí beijando, fica refletindo pelos cantos. Ou talvez seja o que disse o jornal The New York Times sobre o álbum de nossa heroína: “Como é difícil encontrar o verdadeiro eu”.
Fica o alerta para quem está nessa fase da vida e ainda tem tempo de sobra. Fica o pesar para quem passou da idade.
***CAIXINHA DE COMENTÁRIOS
A edição de hoje da Dia Sim, Dia Não inaugura uma nova e importante seção: caixinha de comentários. A ideia é fazer exatamente o que diz o nome da seção, responder comentários da galera.
O primeiro comentário vem de um e-mail misterioso.
Boa tarde, seu Davi.
Aqui é um internauta misterioso que gostaria de saber a sua opinião sobre um assunto: o que você acha dos millennials que estão doloridos por estarem sendo taxados de velho?
Pode por favor mandar um abraço pra comunidade do Ipiranga?
Abraços
Boa tarde, internauta misterioso.
Primeiramente, fica aqui meu grande abraço para toda a comunidade do Ipiranga, um bairro ímpar para toda a história da cidade de São Paulo. Do Brasil. Deste Planeta Terra.
Fora isso, recomendo fortemente que os millennials cheios de dor e ressentimento comprem um daqueles porta-comprimidos semanais, divididos por manhã, tarde e noite. Este objeto de desejo é essencial para todo millennial pois assim fica praticamente impossível se confundir com todos os remédios.
E você aí, quer participar da Caixinha de Comentários? Deixe um comentário ou responda este e-mail com sua dúvida, questão, apontamento, ideia, pensamento.
***QUANDO VAI PASSAR LUCY?
Desde a edição Como virar um pen drive da Dia Sim, Dia Não comecei a prestar um serviço social nesta newsletter, listando quando o filme Lucy vai passar na TV brasileira.
Com a chegada de um novo mês, está na hora de atualizar esse guia de programação com mais NOVE chances de ver a atriz Scarlett Johansson virando um belíssimo e potente pen drive na sua TV.
Ainda hoje, 2 de julho, você terá a chance de sextar vendo esse clássico. Repare que no próximo domingo você pode almoçar 12h09 e tomar café da tarde às 16h18 vendo esse filmaço.
Hoje, sexta, dia 2 de julho, às 16h45 no canal Sony
Domingo, dia 4 de julho, às 02h29, no canal Space
Domingo, dia 4 de julho, às 12h09, no canal Space
Domingo, dia 4 de julho, às 16h18, no canal Warner
Sábado, dia 10 de julho, às 23h00, no canal Universal TV
Domingo, dia 11 de julho, às 13h00, no canal Universal TV
Quarta-feira, dia 14 de julho, às 03h11, no canal Space
Quarta-feira, dia 14 de julho, às 17h40, no canal Megapix
Quarta-feira, dia 14 de julho, às 22h30, no canal Space
Vale lembrar que os horários podem mudar pois eu não tenho nada com isso, só pego os dados no site da operadora.
***TWEETS DA SMN
A rede mundial de computadores foi criada para que nós tivéssemos a liberdade de escrever tweets em 2021. Por isso, chegou a hora de olhar para esta semana e reencontrar com alguns dos melhores da semana pois logo logo chega o fds.
Hoje temos alerta de higiene, piada ruim, meta de relacionamento, nostalgia, uma estátua perfeita, vacina e uma aula de francês.
***MISTÉRIO DO DIA
Na edição passada da Dia Sim, Dia Não nosso grande mistério foi: na música Segue o Seco, cantada por Marisa Monte, qual palavra aparece mais: seco ou seca? Num grande esforço de reportagem ouvi a música três vezes, contei e descobri que a resposta é a mesma vez. A palavra seca aparece 12 vezes e a palavra seco também 12 vezes.
O mistério de hoje é: no Brasil, quantas pessoas se chamam Alexa? A resposta eu revelo na próxima edição da Dia Sim, Dia Não.
***POR HJ BASTA
Por hoje está mais do que bom e eu fico por aqui. Se você perdeu outras edições de Dia Sim, Dia Não, tudo bem, leia mais enquanto está aí no banheiro esperando:
A parte do corpo de Anitta que a alçou de vez ao panteão da contracultura
Uma viagem pelas definições de "cringe", "fds", "molhar o biscoito", "semibissexual"
O que aprendi com "Tem que vigorar!", um dos livros mais vendidos do Brasil
Com um microfone em mãos Tiago Leifert dita o mito da caverna para o povo brasileiro