The Ocean: beautiful, The Mountains: incredible, Jesus: What the Fuck
Escolhendo cebola enquanto “touched for the very first time” gritava no fundo meu cérebro.
Prólogo:
Olha, nem iria escrever sobre o show da Madonna por aqui, acredita? Mas atendendo a pedidos, escrevi sobre o show da Madonna.
Agora o texto:
Domingo passado aconteceu algo cada vez mais raro, vi uma pessoa conversando com outra pessoa usando um telefone celular. Ela disse uma frase que me marcou bastante: “tá tudo vazio no Rio hoje, deve ser o show da Madonna”. E tava mesmo.
Não sei como foi o show da Madonna para você, pra mim foi assim: acabei não indo à Copacabana sábado à noite, fiquei em casa e vi tudo ao vivo pela TV. Mas assisti aos ensaios lá na praia e deu para ver bem de perto a pequena Madonna de 1,61m pulando no colo da enorme Pabllo Vittar de 1,87m. Uma das cenas mais doidas que já presenciei em um palco.
Além do show em si, foi fascinante viver essa experiência a partir do ponto de vista da cidade do Rio de Janeiro. Parece que tudo começou quando, ainda em abril, umas três semanas antes do show, começaram a subir as primeiras estruturas do palco na praia. Lentamente o assunto show da Madonna passou a aparecer por aí. Na semana do evento foi simplesmente impossível sair de casa sem lembrar que ele aconteceria.
Tenho pra mim que em quase todo o canto do Rio de Janeiro tem uma trilha sonora, boa parte sustentada por camelôs e comerciantes. A maior parte do tempo ouve-se samba, claro, para nossa alegria. O que toca de Xande de Pilares na rua é coisa de maluco, eu estou sempre erguendo minha cabeça. Mas por alguns dias o povo resolveu ouvir as clássicas, principalmente Like a Virgin, Holiday e La Isla Bonita, a trinca meio Alpha FM se repetiu muito, pelo menos no meu caminho.
Arrisco dizer que de quarta em diante tocava Like a Virgin ininterruptamente na minha cabeça. Me peguei escolhendo cebola enquanto “touched for the very first time” gritava no fundo do meu cérebro. Talvez em certo momento talvez eu já estivesse ouvindo Like a Prayer em porta de igreja.
Fiz duas marcantes viagens de Uber na véspera do show. Um senhor me confessou que não iria pra praia por não ter mais idade pra aguentar multidão, mas iria ver pela TV com a família. Ele disse que a esposa dele gostava muito da Madonna e que a cidade estava numa energia muito boa, num clima diferente da rotina puxada do Rio de Janeiro.
Em outro Uber, uma senhora reclamou que era um absurdo a prefeitura gastar dez milhões para pagar o cachê da Madonna enquanto a cidade precisa de saúde e segurança. Ela também disse outras coisas, mas vou poupar seus olhos. Eu sinceramente até gostei dessa senhora reclamona que espalha fake news (a cidade não pagou o cachê). Pelo menos tá reclamando da Madonna, traz um tom lúdico pra uma conversa do tipo.
E o que dizer do RJTV, o meu telejornal favorito? Diariamente o jornal consegue captar o espírito do tempo e dar vazão a algumas das principais notícias da cidade. Mas nos dias antes do show eles exibiram edições de colecionador, mostrando como o carioca foi envolvido por esse Revéillon fora de época. Além das reportagens e prestação de serviço, foi incrível assistir aos fãs extrovertidos e com tempo livre na frente do Copacabana Palace cantando as mesmas Like a Virgin e La Isla Bonita, com as letras do jeito que bem entendiam (certo eles).
No fim valeu a pena pois o show foi tudo que se prometeu e mais um pouco. Além de todo o desfile apoteótico pela carreira, Madonna ainda fez o favor de descrever o Rio de Janeiro com o olhar estrangeiro de um jeito inesquecível. Não estava esperando pela frase “the ocean: beautiful, the mountains: incredible, Jesus: what the fuck”. Em geral, acho um porre brasileiro deslumbrado com gringo opinando sobre nós mesmos, mas essas poucas palavras me fazem mudar de opinião temporariamente. Até porque em parte do Rio é isso. É o que faz as pessoas ficarem doidas, deslumbradas, apontarem seus celulares pra cima: o oceano, as montanhas e Jesus. E tem todo o resto, mas não conta agora.
As autoridades dão conta de que 1,6 milhões de pessoas foram ao show. Sinto que essa conta tá errada. Tinha de incluir os 6,2 milhões de moradores do Rio de Janeiro inteiro. Sem caô, não teve como uma pessoa ter passado incólume ao que aconteceu na praia de Copacabana em 4 de maio de 2024.
Já que teve prólogo, agora vamos de Posfácio:
Quarta-feira dia 8, a Madonna postou umas fotos dos dias com a gente no Rio, tem uma com a Pabllo Vittar que parece representar bem esse momento, a Madonna é a Madonna e a Pabllo é o Brasil ali.
Dá a impressão de que a foto foi tirada há meses atrás, que estamos falando de um tbt de Instagram de algo super distante. É que a vida se impõe e isso tudo já não existe mais, não importa de onde você acompanhou o show da Madonna, agora você está vendo ao vivo uma das piores crises climáticas do nosso tempo. Talvez um evento desse tamanho no Rio em meio a uma situação terrível no Sul nos faça lembrar que temos de aproveitar ao máximo as oportunidades para nos divertir pois sabe lá até quando isso vai continuar? Não sei, mas isso vai ser assunto de outro post (já tô até escrevendo).
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o show da madonna fez brotar de novo o rio que a gente gosta e tanto precisa: uma cidade alegre e vocacionada para a festa, para os encontros, para a vida! não é por acaso que a cidade é maravilhosa: se tivéssemos mais segurança e menos desigualdades, o rio seria um destino turístico imbatível!
Que show incrível! Não consegui assistir presencialmente, mas foi tudo acompanhar pela tv mesmo! ✨ Tô madonnizada até agora.