Xixi com cheiro de Chernobyl
Outra Autobiografia é triste demais, ao mesmo tempo é engraçada, e realista pra caceta.
Quando aparece uma imagem mental do Faustão na cabeça eu consigo ouvir ele dizendo: “O loco, meu”, se a mente traz Alcione à tona a frase vem do refrão: “não deixe o samba morrer”. Tem gente que é tão ícone, mas tão ícone, que a vozes até se recriam em nossas cabeças. Imagine aí Zeca Pagodinho recitando Carlos Drummond de Andrade, é totalmente possível.
Foi exatamente o que aconteceu comigo essa semana quando li o novo livro da Rita Lee: “Outra Autobiografia”. São mais de 180 páginas de novas histórias, a maior parte delas acontece entre maio de 2021 e janeiro de 2023. É tudo novidade, não me lembro de ouvir a Rita falar nomes de remédios ou termos que remetem à hospital, médicos, esses profissionais. Mesmo assim, o fenômeno do parágrafo anterior aconteceu da primeira até a última linha.
Passei o livro todo com a impressão de ouvir a voz da Rita Lee falando, contando, exclamando, sussurrando, gritando todas aquelas histórias. É como se ela tivesse me ligado para contar o que rolou, dá impressão que puxamos uma cadeira e começamos a conversar. Na verdade isso não é novo em se tratando de Rita Lee, pra mim aconteceu o mesmo em “Rita Lee: Uma Autobiografia” e no “Dropz”, mas é digno de nota (como diz o ditado).
Obviamente “Outra Autobiografia” é muito mais que isso. É uma obra triste demais, ao mesmo tempo é engraçada, e realista pra caceta, é pra gente lembrar que vale muito a pena viver e rir mesmo das coisas mais duras da vida. Tenho pra mim que a gente tem sempre de lembrar o quanto nossas vidinhas bestas são meio ridículas. Tenho a impressão de que esse livro confirma um pouco tudo isso e outras coisas.
Pensando aqui enquanto digito esse texto, parece um show, um recital, um encontro com a Rita Lee curada falando como foi passar pelo pesadelo do câncer. Não parece uma história contada por alguém que está doente pois tem muita vida ali na escrita.
Longe de mim dar algum spoiler, mas quem, numa situação terrível enfrentando um câncer, consegue ter forças e senso de humor para escrever que o seu próprio xixi está com cheiro de Chernobyl? Foi no curto parágrafo:
“Enquanto isso, lá em casa a vidinha de deficiente dependente continuava, toda hora a chatice de um medicamento pra isso, pra aquilo… sei que o meu xixi tinha cheiro de Chernobyl.”
Isso para dar só um exemplo. Fora o resto. Se puder, leia, não perca o ato final de Rita Lee.
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***PS:
Não tem um mês que falei da Rita Lee aqui na Dia Sim, Dia Não mas a vida é feita de assuntos repetidos.
***DRAUZIO VARELLA DO DIA:
E vamos com a seção dedicada ao meu influenciador favorito.
Sabe quem também passou por uma doença terrível e escreveu um livro tenso com momentos de bom humor? Nosso médico Doutor Drauzio Varella. Recomendo demais “O Médico Doente”, lançado em 2007. Prepare o lencinho e, vai por mim, aguarde por algumas risadas:
***POR HOJE É SÓ
E já basta. Esta foi a Dia Sim, Dia Não número 111. Em breve chega a edição 112 no seu e-mail. Enquanto isso, leia mais: