A rotina básica de todo ser humano (morador das grandes e médias cidades) é diferente mas ao mesmo tempo meio igual.
Quando o despertador do celular toca, é hora de acordar e pegar o celular na mão e ficar pelo menos uns trinta minutos dando scroll nas postagens, depois é momento de tomar café da manhã se atualizando com o celular como companhia. Logo é hora de sair na rua segurando o celular para ficar de olho nas novidades e quando chegar no trabalho passar o dia mexendo no celular (lembrando de parar para trabalhar às vezes). Quando o expediente termina é voltar para casa com o celular nas mãos, para ver o que não deu tempo de checar enquanto outras tarefas atrapalharam. Em casa é de suma importância se entreter com o celular até dar sono. E isso se repete de segunda a sexta.
Há poucas exceções. Algumas pessoas desviam o caminho e usam o celular na academia ou alguma seita, por exemplo. Quem tem a honra de trabalhar no famoso formato home office (ou work from home para os anglófonos) faz a mesma coisa sem os deslocamentos no meio. Em fins de semana e feriados quem tem verba usa o celular na rua, bares, restaurantes, essas coisas. Nessa linda jornada, enquanto consomem conteúdo sem parar, as pessoas participam de tudo, o que significa comprar cacarecos, dar opiniões sobre todos os assuntos e produzir conteúdo sobre sua própria vida.
Não me espanta em nada a fofoca de firma que saiu no jornal The Guardian. Diz que a rede social BeReal está no bico do corvo, caiu de 20 para 6 milhões de usuários ativos por mês. Ninguém nem sabe direito o que é isso, mas se a notícia chegou aqui é sinal de que a coitada tá flopada.
Caso você não saiba o que é esse negócio de BeReal, trata-se de um lugar da internet onde as pessoas só podem postar uma foto por dia e sem nenhuma edição. Eu tenho uma cisma com esse serviço. Quando esse troço foi lançado estava na cara que não ia dar em nada. Onde já se viu rede social que só pode postar uma foto por dia sem edição, sem filtro, só a cara lavada? Vez em quando eu entro lá e só tem foto feia, close esquisito, imagens tenebrosas. Quem quer ver isso??? A vida não é um filme feio da produtora A24. Faça-me o favor.
Dizem que o jovem da geração Z quer ser verdadeiro, real, autêntico. Meu anjo, ouve o que você está falando pelo menos uma vez na vida. As pessoas até tentam se enganar dizendo que querem “ser elas mesmas”, sonham com um mundo com mais paz, amor, justiça e consumo consciente. Porém, vamos convir, só a fantasia das redes sociais salva. Sem sonhos ninguém aguenta tanto tempo de tela.
O jovem tá fazendo plástica pra ficar com o rosto imagem e semelhança dos filtros do TikTok. O povo quer fazer poses, usar roupas bonitas, objetos exclusivos, ter acesso às novidades mais hypadas da praça. Tem gente que prefere jogar videogame 24 por 7 pois só é feliz on-line. Isso é um problemão, mas é a realidade.
Chegamos em um ponto em que toda a humanidade precisa só de três coisas: conteúdo, banda larga e bateria. Se as redes sociais pararem de funcionar 24 horas por dia e sem limite todo mundo vai entrar em parafuso. Teremos a Quinta Guerra Mundial. O nível de ansiedade é tão alto que ninguém vai lidar com a Terceira ou a Quarta Guerra, vamos direto pra Quinta.
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***PS:
Em julho de 2022 eu opinei que o BeReal não iria dar em nada. Só me faltava essa: usar isso aqui para falar eu avisei.
***DRAUZIO VARELLA DO DIA:
Vamos com a seção dedicada ao meu influenciador favorito.
Há algumas semanas foi ao ar um episódio do podcast A Playlist da Minha Vida com o nosso médico Drauzio Varella. É uma conversa maravilhosa com a Fernanda Torres sobre 11 músicas que marcaram a vida dele. Eu não esperava por Supertramp e Billie Holliday na lista, mas é bom demais topar com algumas surpresas.
***POR HOJE É SÓ
Essa foi a Dia Sim, Dia Não 107. Muito em breve você vai receber a edição 108 no seu e-mail. Enquanto isso não pare por aqui, leia mais: