É como dizem: falei, tô leve
Saiba que você está sozinho no fundo do seu poço, mas ao lado tem outro poço fundo com outra pessoa sozinha. Isso deve te confortar.
Eu estava num bar fim de semana passado quando ouvi na mesa ao lado uma galerinha conversando. Longe de mim fazer fofoca, mas o assunto era saúde. E saúde é o que interessa, o resto não tem pressa. O rapaz virou pro amigo e falou: “Tô super feliz, amigo. Já fiz ultrassom e hemograma completo. Na segunda que vem já vou fazer ressonância, tô super animado, super bem".
O relógio batia mais ou menos 00h00 de sexta pra sábado e o suposto enfermo segurava uma Heineken. Tudo indica que ele não estava com uma doença grave. De acordo com minha análise rasa e sem sentido, o cara não tinha nenhum problema de saúde. Então me sinto na liberdade de pensar o seguinte: caramba, galera, que assunto hein?
Semana retrasada eu estava em um restaurante comendo um negocinho, bem distante do bar do primeiro parágrafo. Na mesa ao lado, a conversa de duas moças chegou nesse ponto: "Uma pessoa numa situação dessas, com uma condição dessas, se recusar a se tratar desse jeito. Deixar de fazer uma terapia, sabe? A pessoa parece que quer chegar no fundo do poço. E digo mais, quando chegar vai ser muito fundo. Como que não faz nada?".
A amiga ouviu todo o discurso e permaneceu em silêncio por um tempo. Também, pudera. Depois o garçom chegou com meu pedido e eu meio que parei de prestar atenção na conversa.
Sei que o mundo não está nos seus melhores dias, mas penso que eu estou tendo um pouco de azar quando saio de casa. Eu te pergunto: será??? Foda passar por isso, mas com tanto tempo de pandemia fica complicado não usar as mesas por aí pra desabafar.
Eu mesmo me respondo: pensando bem… é isso, galera, pode falar mesmo, fala tudo, desembucha, solta pra fora, dos hemogramas ao fundo do poço. E todo mundo tem seu fundo do poço, saiba que você está sozinho no fundo do seu poço, mas ao lado tem outro poço fundo com outra pessoa sozinha. Isso deve te confortar.
E, vamos convir, estamos vivendo uma era onde não é bom guardar nada. Afinal, estamos em plena nova Idade Média: tem peste, fome, guerras, Grandes Navegações e carecas soltos por aí.
O pior de tudo é que não vai ter Carnaval pra gente esquecer os problemas como merecíamos. Eu sei que não vai ter Carnaval oficial, mas vai ter daquele jeito, DAQUELE JEITO, em alguns lugares. De qualquer modo, fica na boca o gosto amargo do que não vamos viver depois de quase dois anos em situação de bico do corvo pandêmico. Haja paciência.
A gente tá merecendo o que foi o Carnaval de 1919.
Em outubro de 1918 a Gripe Espanhola chegou ao Brasil. Morreu gente pra caramba, o Rio de Janeiro era capital na época e as ruas ficaram lotadas de caixões literalmente espalhados pelos cantos, muito pior do que rolou com a covid. Foi um horror. Quando a peste acabou os que sobreviveram foram viver nas ruas do Rio. Registros dão conta de um Carnaval louco, doido, louquinho, MALUQUETE.
Pra se ter uma ideia, essa foi uma das marchinhas daquele ano:
"Quem não morreu de Espanhola
Quem dela pôde escapar
Não dá mais tratos à bola
Toca a rir, toca a brincar"
Gosto muito deste texto do Nelson Rodrigues descrevendo a putaria lascada com muita elegância:
"Começou o Carnaval e, de repente, da noite para o dia, usos, costumes e pudores tornaram-se antigos, obsoletos, espectrais. A espanhola trouxera no ventre costumes jamais sonhados. E, então, o sujeito passou a fazer coisas, a pensar coisas, a sentir coisas inéditas e, mesmo, demoníacas."
É disso que eu to falando, diversão em proporções nababescas. Coisas inéditas e, mesmo, demoníacas. Mas ainda estamos sem clima e o que resta é desabafar por aí.
Quem não tem bar pode usar as redes sociais. Veja que a tag #faleitoleve tem mais de 320 mil posts no Instagram e outros milhares de tweets.
***OUÇA O QUICANDO
Saiu mais um episódio do Quicando, podcast que apresento com minha amiga Juliana Kataoka. Essa semana temos BBB 22, uma galera que cagou numa formatura e jovens e adultos brigando como crianças nas redes sociais. Clique aqui e ouça lá Deezer. Tem um trecho no tweet a seguir:
***A INTERNET HEIN
Quem tem internet tem tudo na palma das mãos. Tudo. Para ajudar a filtrar só o melhor do melhor, deixo as minhas dicas aqui com você.
1 - Um texto antigo sobre ressaca que eu gosto muito e contém a seguinte passagem:
“Logo ao acordar, repita para si mesmo que é uma sorte estar se sentindo tão mal. Pois a verdade é que só se sente bem depois de uma noite de excessos quem ainda está de porre, o que significa ter que ficar sóbrio e esperar acordado pela chegada da ressaca.”
2 - A reportagem: Quem é Rato Distópico, artista que viralizou após 'treta do techno' em SP
3 - O atendimento ao consumidor da loja Aff The Hype é uma aula de como lidar com o consumidor.
4 - Uma thread pra cinemista nenhum botar defeito.
5 - O Termo, aquele joguinho das palavrinhas, tá começando a esculachar com quatro palavras ao mesmo tempo. Eu sabia que essa hora ia chegar, eu avisei aqui na Dia Sim, Dia Não.
6 - Uma cerimônia:
7 - Uma creche:
8 - O vídeo “Hipster ou Mendigo?”
9 - A nova música da Rosalía:
***POR HOJE É SÓ
Essa foi mais uma Dia Sim, Dia Não. Logo tem mais. Enquanto isso, fique as edições anteriores.
Ver os outros criando é um porre. É dose pra elefante
Carisma parece até um negócio genético. Tem ou não tem.
O fim da pandemia vou ver e te falo
Pedro Almodóvar enquanto um velho da tosse
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