A internet fez 32 anos, é millennial essa querida, ela está completamente esculhambada
Belíssima e consolidada, aparentemente independente e dona de si, jura que sabe de tudo e de todos, busca sempre boas experiências em fins de semana e feriados.
O que você fez em 6 de agosto de 2023? Foi domingo e na manchete da Folha teve a notícia "Usuários dizem viver o 'inferno na terra' na cracolândia e temem ações policiais", no Estadão o destaque era "OMS classifica 'gaming disorder' como transtorno". O Fantástico usou Inteligência Artificial e recriou a capa daquele disco do Secos e Molhados.
Falando da nossa vidinha besta, o que rolou por aí? Como esse texto não é ao vivo, não vou ouvir sua resposta, mas deixo meu depoimento: fiz um esforço e lembrei do meu dia (minha memória tá péssima): acordei tarde, comi, limpei a casa, dei uma volta na praia, fui ao teatro no começo da noite e jantei um negocinho qualquer. Sem grandes emoções. Um fato passou batido.
Eu e você deveríamos ter lembrado de um grande mega super ultra acontecimento. Nesse dia, em 1991, a World Wide Web foi devidamente lançada ao mundo pelo físico britânico Tim Berners-Lee. Um querido. Veja só a carinha do primeiro site de todos os tempos, bem feio, muito arqueológico:
A internet fez 32 primaveras em 2023. É millennial essa querida. Dá pra comparar a história com a idade dela. Aos 5 aninhos pouca gente dava moral pra garota na escola, até falavam que a coitada não ia virar nada, enquanto outros apostavam pesado (surgiu UOL, AOL, Cadê, ZAZ, Altavista. Deus os tenha).
Aos 15 (em 2006) nossa heroína estava na puberdade e era popular, encantava por onde passava. Já existia rede social, mas o Orkut só tinha um ano e meio no ar, a gente só ia lá às vezes, normalmente depois da meia-noite. Dava pra ficar online e offline, hoje isso nem é uma opção, geral tá on 24 por 7.
Nessa época ainda havia altas expectativas e um grau de inocência no coração das pessoas quando elas se encontravam com a internet. Como o sonho da informação e conhecimento eternamente de graça, acessível e compartilhado.
Em 2016 a internet chegou aos 25 esporrando juventude e minimamente madura. O auge. A amada mudava tudo que botava as mãos, ainda dispunha de tardes livres, energia, vontade de viver e descobrir o mundo. Tinha um naco de experiência suficiente para não ser passada pra trás: compartilhava as coisas sim, entretanto com um preço a se pagar, seja em dinheiro ou em saúde física e mental.
Nessa fase perto dos 25 a garota teve de lidar com as transformações da idade adulta e acabou batendo de frente com a democracia (essa é boomer). Teve paradigma sendo quebrado em todas as veias abertas da América Latina: em 2013 os protestos de rua acordaram o gigante, o pleito de 2014 inaugurou no Brasil o inferno das famílias divididas no zap e no feice, em 2016 a extrema direita barbarizou na eleição americana, depois teve golpe de estado no Brasil e na América do Sul... coitada, vamos mudar de assunto.
Essas coisas todas deixaram sequelas graves em todo mundo, de todas as gerações.
Atualmente a internet é a gata de 32 anos, belíssima e consolidada, aparentemente independente e dona de si, jura que sabe de tudo e de todos, busca sempre boas experiências em fins de semana e feriados. Mas... a gente sempre chega no MAS. Ela está completamente esculhambada, carente, fragilizada, empanzinada de conteúdos sem dar conta de acompanhar nem metade, ama positividade tóxica, se transformou em um criadouro de síndromes, transborda podridão e cansaço. Ela é complexa, cheia de nuances, passa dias e noites fugindo de golpes, pagando contas, dançando e buscando equilíbrio. Às vezes toma remédio sem prescrição médica. Você beijaria essa garota? Não rola outra alternativa, esta é a única disponível.
O que será que vai ser da lenda aos 40 anos? Quem viver obrigatoriamente verá.
To escrevendo esse post pois me pegou demais esse imagem que saiu na Melted Videos .
Longe de mim ser saudosista e acreditar em falácias “antes sim era bom”. Peraí. Era bom ir pessoalmente até o posto de saúde só pra saber a data certa de tomar vacina da gripe??? Mentira!!! Você gostava de ler a Barsa quando tinha sede de conhecimentos aleatórios??? Se liga, hein. Nosso tempo é ótimo, é agora, só lembramos com distanciamento e bons olhos de outras fases menos agitadas.
Dia desses eu soube de um fenômeno extremamente interessante: as pessoas estreiam nas redes sociais direto no Instagram e/ou TikTok. Nunca logaram no Facebook. Para surpresa de ninguém, humanos seguem nascendo e tendo de lidar só com as ofertas do momento. Deve ser uma pira enorme morar na cabeça dessa geração (ok a minha mente também é bem complicada).
Jamais gostaria de botar expectativa nas costas de outrem, entretanto vou dizer: cabe a atual geração de 20 e poucos a missão de fazer da internet um lugar melhor, quer dizer, um lugar normal e frequentável já tá ótimo. "Como faz?", você deve estar se perguntando (provavelmente não está, mas aí estraga meu texto). Eu sei lá, você também quer tudo na mão hein.
Se você, assim como eu, gasta todo seu tempo e energia com internet, assine a versão paga da Dia Sim, Dia Não. Os valores são para todos os bolsos, se liga:
***PS:
Se você está recebendo a Dia Sim, Dia Não pela primeira vez pode entrar, fique a vontade, espero que goste. Se você recebe a newsletter há tempos, deixo aqui meu obrigado pelo prestígio. Lembrando todo mundo de como as coisas funcionam por aqui: Dia Sim tem post, Dia Não não tem nada.
***DRAUZIO VARELLA DO DIA:
E vamos com a seção dedicada ao meu influenciador favorito.
Nesta semana o post é muito especial. Aconteceu o grande encontro de Drauzio Varella, Padre Julio Lancelotti e Eduardo Suplicy. A imagem lembrou o meme do Homem-Aranha e foi parar no Instagram do Padre Julio.
E não teve só uma releitura deste momento, foram DUAS!!!
Incrível. Seria ainda melhor com todos de vermelho ou se o Suplicy estivesse de azul. Eles se encontraram em um evento de lançamento de um documentário sobre a trajetória do Padre Julio.
***LINKS PARA PREENCHER O VAZIO DA EXISTÊNCIA:
Como acontece em toda Dia Sim, Dia Não, vamos com a seção de links que vai te deixar com o astral lá em cima. Já aviso que ando lendo coisas com muitas palavras, vai dar pra preencher mundos e fundos aí. A seguir 7 links:
Uma história fascinante e meio melancólica e meio um retrato do que são as redes sociais brasileiras: Como ter virado meme foi pesadelo para jovem, mas se tornou conforto no fim da vida dela.
E você sabia que tem uma galera ganhando dinheiro para fazer avaliações falsas em produtos? Só faltava essa. Mais detalhes neste link.
O que nos leva ao tutorial: Como saber se avaliações de produtos online são falsas?
Uma matéria interessantíssima da minha amiga Tati Farah sobre todo o universo das novas drogas disponíveis na praça e a que pé anda a redução de danos no Brasil.
Uma entrevistona da PJ Harvey na New Yorker: Feeling the Sting of Time with PJ Harvey
Jornalismo sempre entregando notícias e entretenimento (acho que isso é bem antigo, mas quem se importa?).
***POR HOJE É SÓ
Essa foi a edição 123 da Dia Sim, Dia Não. Em breve a 124 vem aí, enquanto isso, leia mais, busque mais conhecimento enquanto faz as necessidades básicas:
Conhecendo sua news através desse texto. Me diverti muito!!! (não costumo me divertir às 9h30 de uma sexta).
Que texto bom!