Instituições de caridade, Mega-Sena e os desafios da vida
“Se eu ganhar na Mega vou sumir do mapa”.
Se você esteve na internet brasileira nos últimos dias deve ter ouvido falar do nome Jade Picon e suas variantes. Muito provavelmente esteja sabendo que a menina milionária estava pensando em ganhar o BBB e doar o prêmio de um milhão e meio de reais para cinco instituições de caridade. Até aí, tudo bem.
O problema é que ela não guardou essa ideia só com ela. A moça resolveu expor essa proposta em um discurso para convencer as pessoas a não eliminarem ela do programa. Em plena noite de domingo.
Rapaz, isso me pegou demais. Veja só, houve um tempo em que as pessoas amavam atitudes pra lá de altruístas e ficavam torcendo para que mais gente fizesse o mesmo. Mas isso é muito anos 90. Me espanta como uma menina nascida em 2002 tenha usado um troço tão antiquado.
Ninguém mais cai nesse papinho de intenção de ajudar instituições de caridade. Quem quer realmente ajudar, doar, arrecadar, etc, vai lá, faz e pronto. Se resolve tornar público é quando o dinheiro já chegou em quem realmente precisa.
E tem uma coisa muito particular. A gente sabe que rico em geral não tá nem aí pra hospital, orfanato, lar de idosos, pra caridade alguma, pra doar nada - a não ser que seja abatido do Imposto de Renda. Eu sei que não são todos. Repito: eu sei que não são todos. No plural: nós sabemos que não são todos. E tá tudo bem, cada um com sua história.
Me lembrei deste tweet maravilhoso:
É fato que o público faz essa turma de reality show espelho de seus próprios desejos. Acho que o nível é tão alto nesse quesito que se ela tivesse falado “eu quero ganhar esse prêmio para gastar tudo em joias, me deixem ficar aqui nessa casa” talvez Jade tivesse mais chance de manter a índole em dia.
Esse papo de corrida desenfreada por dinheiro fácil me lembra um pouco a Mega-Sena. Quando o fim de ano vai chegando o brasileiro se dá ao direito de sonhar com o prêmio ultra milionário de 200, 300 e poucos milhões de reais. Essa semana tá sonhando com a Mega acumulada de 100 milhões.
Noto que em geral as pessoas pensam Maia ou menos o seguinte:
“se eu ganhar na Mega vou sumir do mapa”
“se eu ganhar na Mega nunca mais vou olhar pra cara desse chefe imbecil nessa merda de trabalho”
“se eu ganhar na Mega vou viver de renda e ajudar minha família”
Não vejo as pessoas falando “se eu ganhar na Mega vou ajudar muitas instituições de caridade”. O brasileiro tá num estado de nervo que tá difícil de lidar com ele próprio, imagine com os outros. Vamos dizer que depois da pessoa resolver suas próprias tretas, role pensar nos outros. Mas em primeiro lugar sempre a sobrevivência.
Por isso ver outras pessoas realizando sonhos fúteis e consumistas também é um jeito de se ver realizando um sonho fútil e consumista. E justamente uma menina conhecida pelo luxo e riqueza, que não sabe varrer um chão e lavar sua própria roupa, resolveu apelar justamente para o contrário? Por quê??? Eu não tenho respostas, mas a galera precisa se preparar melhor para os desafios da vida.
***UM PS
Sei que essa história da Jade foi no começo da semana, mais ou menos um mês atrás, mas só deu tempo de mandar a newsletter hoje.
***OUÇA O TÁ MUTADO
Eu e minha amiga Juliana Kataoka apresentamos o podcast Quicando e fomos convidados pelo Fábio Cruz para participar do podcast dele o Tá Mutado. A gente bateu um papo sobre podcasts, conteúdos, influenciadores em geral e fizemos um jogo de stop muito engraçado sobre esse mundinho todo da internet. Pegue um link aqui.
***OUÇA O QUICANDO
E essa semana no podcast Quicando a Kataoka e eu recebemos a Alana Azevedo, criadora das Organizações Globe. Batemos um papo sobre o único assunto disponível no Brasil atual: o BBB. Ouça na Deezer.
***POR HOJE É SÓ
Chega ao fim mais uma Dia Sim, Dia Não. Mas não fique triste, mantenha-se feliz lendo as edições anteriores.
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